Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 17 de janeiro de 2015

Fiat Lux


Em 2010 fui convidada a escrever um texto sobre a Luz, para o catálogo de uma exposição. Enviei o texto e passado algum tempo,  traduzido em espanhol e inglês, recebo- o para revisão de provas.
Como domino relativamente bem o espanhol foi fácil fazer a revisão mas o mesmo não se passaria com o inglês.   Por acaso estava a passar uns dias em minha casa um primo meu, tradutor, que chegou a fazer traduções em simultâneo, na ONU. O texto em inglês foi comparado com o original  e feita uma ou outra alteração de modo a traduzir melhor o que eu pretendia referir. 
Passado mais algum tempo recebi dois exemplares do catálogo,  Fiquei um pouco surpresa pois não imaginava que fosse um catálogo tão bem apresentado e com tão elevada qualidade.
Na altura frequentava, na escola Utopia, aulas de pintura com Professor Domingos  Loureiro 
 a quem mostrei o catálogo.
Disse-me:
Não interprete mal as minhas palavras mas, provavelmente, nunca nenhuma das obras que já escreveu ou irá escrever,  será lida em tantas parte do mundo como este seu texto no catálogo.

Não me tinha apercebido de tal....


Fiat Lux. Creación e iluminación es el catálogo preparado para ilustrar la exposición comisariada por Paulo Reis en el espacio de MACUF (Museo de Arte Contemporáneo Gas Natural Fenosa) entre el 15 de Abril y el 4 de Julio de 2010. En este, se recogen, además de abundante material gráfico de la exposición, textos de M. de Fátima Lambert, Regina Gouveia y Paulo Reis, así como fichas explicativas del trabajo de cada uno de los artistas participantes en la exposición e imágenes de todas las obras. La portada de Fiat Lux ha sido concebida por DARDO para dejar que la luz se haga, y por ese motivo se ha diseñado en negro con un troquel de círculos. El papel blanco brillante también se ha seleccionado para facilitar el reflejo de la luz sobre las superficies. Al tratarse de una exposición colectiva, el catálogo se ha estructurado teniendo en cuenta la presencia de una serie de fichas de

Deixo um pequeno excerto do texto em espanhol, que poderá ser lido aqui, na íntegra.

MISTERIOSA LUZ, SIMPLE Y BELLA
Regina Gouveia

Unos ojos que me habían mirado con demora,
no sé si por amor o por caridad,
me habían hecho pensar en la muerte, y en la nostalgia
que yo sentiría si me muriese ahora.
Y pensé que de la vida no tendría
ni nostalgia ni pena por perderla,
sino que en mis ojos muertos guardaría
ciertas imágenes de lo que pude ver.
Me gustó mucho la luz. Me gustó verla en todas las maneras,
Desde la luz de la luciérnaga a la fría luz de la estrella,
del fuego de los incendios a la llama de las hogueras.
Me gustó mucho ver como centellea en la cara de un cristal,
cuando traspasa, en una lámina tranquila,
la polvorienta niebla de un pinar,
cuando salta, en las aguas, con contorsiones de culebra,
desecha en piedras preciosas de un lapidado cetro,
cundo incide en un prisma y se desdobla
en los siete colores del espectro (...)
Gedeão, A. in Saudades da terra
La fascinación por la luz se remonta a las sociedades más primitivas que habían divinizado al
Sol y a la Luna. La Serra de Sinta fue conocida antiguamente como sierra de la Luna pues ahí se
practicó su culto.
En la antigua Grecia los hombres habían empezado a intentar explicar el mundo físico a su
alrededor, de una forma más racional y menos mitológica. Pero el estudio de la luz estaba
fuertemente ligado a la percepción visual. Pitágoras y en general los seguidores del platonismo
admitían que los ojos emitían luz. Epicuro fue el primer filósifo en defender que la luz sepor fuente y al entrar en los ojos produce la sensación visual(...).

Tudo isto veio a propósito de 2015 ser o  Ano Internacional da Luz  cujo objetivo, segundo a Unesco, é  "esclarecer os cidadãos de todo mundo para a importância da luz e das tecnologias óticas nas suas vidas, no seu futuro e no desenvolvimento da sociedade"

No site poderão encontrar muitos  vídeos e também muitos textos como o que anexo a seguir.

A Brief History of Light

From early attempts to understand the motion of stars and planets to the appreciation of the importance of light in photosynthesis, efforts to understand the nature and the characteristics of light have revolutionized nearly every field of science. This page will provide an overview and timeline of the history of our understanding of light, and will provide a link to the presentation given on this topic at the Opening Ceremony.
Where to begin?
An important stage of the evolution of the Universe occurred around 300,000 years after the Big Bang, when the temperature was cool enough (around 4000 degrees) for neutral atoms to form. Before that time, there were too many charged particles to allow light to travel more than a very short distance.  After atoms were formed, light could travel immense distances. In fact, we can receive today ‘light’ (in the form of microwaves) that has been traveling for over 13 billion years.
Perhaps of more importance to us was the formation of the Sun and the solar system - including our planet - about 4.5 billion years ago. Earth has been bathed with light from the Sun ever since; it is our most important source of energy. Sunlight warms us, causes weather patterns, allows plants to manufacture oxygen and our food from carbon dioxide and water, and it allows us to find our way around in the daytime!
The use of sunlight in photosynthesis, to make oxygen and carbohydrates from carbon dioxide and water, is a process first established over two billion years ago by cyanobacteria. They made the large quantities of oxygen in the atmosphere which allowed oxygen-breathing life to evolve. Today plants use chlorophyll to achieve the same result, keeping the atmosphere breathable, and providing food energy for us and all other advanced life forms.
Of course, mankind has found other sources of light over the course of history. Fire is obviously the earliest of these: from the camp fires of our cave-dwelling ancestors to the spirit lamps still used where there is no electricity. But electricity is the source of artificial light today, starting with the invention of the incandescent light by Joseph Swan and Thomas Edison and progressing via fluorescent lighting to modern light emitting diode (LED) lights.
Mankind has also learned to control light. The use of mirrors and lenses to divert light, or to magnify images, dates from pre-history. Microscopes and telescopes, using multiple mirrors and/or lenses are two closely related inventions from just a few hundred years ago. They allow us to study objects smaller than our naked eyes can see, and objects at large distances, whether ships at sea, or astronomical bodies at enormous distances.
We can also send light from one place to another using optical fibres or ‘light guides’ . These allow us to use light to transmit large amounts of information, and to explore regions where we cannot go, such as in medical probes or endoscopes.
No blog De Rerum Natura, Carlos Fiolhais tem colocado vários "post" a propósito, nomeadamente  "O ARTISTA PORTUGUÊS NUNO MAYA VAI ABRIR O ANO INTERNACIONAL DA LUZ EM PARIS"

Um outro post tem por título O que é a luz ? Podem lê-lo a seguir.




Vale a pena, neste Ano Internacional da Luz, voltar a esta questão muito antiga. Ao longo da história, foram-lhe sendo dadas diferentes respostas. Para os atomistas gregos,  a luz era, como aliás tudo o resto, constituída por partículas. No início do século XVIII, o físico inglês Isaac Newton recuperou esta teoria, uma vez que ela permitia explicar, entre outros fenómenos ópticos, a propagação rectilínea da luz, a reflexão (embate da luz na superfície de um espelho) e refracção (desvio da luz ao passar de um meio para outro).

Contudo, um outro físico, o holandês seu contemporâneo Christian Huyghens, conseguia explicar os mesmos fenómenos usando ondas. Apesar do enorme prestígio de Newton, foi a teoria ondulatória que acabou por prevalecer no século XIX: logo no início desse século, uma famosa realizada pelo inglês Thomas Young, exibindo a interferência de luz que passa por duas fendas, só podia ser compreendida com a ajuda de ondas. Uma partícula nunca pode anular outra partícula, mas uma onda já pode anular outra onda. Assistiu-se então ao triunfo da teoria ondulatória, para a qual muito contribuiu uma memória de 1815 do francês Augustin-Jean Fresnel, sobre a difracção da luz (espalhamento quando sai de um pequeno orifício).

Se a luz é uma onda, o que é que está a vibrar? Há 150 anos, o escocês James Clerk Maxwell, ao juntar, na mesma descrição matemática, a electricidade e o magnetismo, foi o primeiro a propor que a luz era uma onda que resultava da vibração do campo electromagnético. O que é esse campo? Para explicar a força eléctrica e a magnética à distância tinha-se introduzido a noção de campo. Existe um campo magnético associado ao campo eléctrico e a luz mais não é do que a propagação de uma perturbação periódica desses dois campos, conjunto a que chamamos campo electromagnético. A velocidade da luz foi calculada a partir de propriedades eléctricas e magnéticas. Apesar de essa velocidade ser constante, podiam existir ondas com  comprimentos de onda muito diferentes. A luz visível corresponde a uma pequena “janela” no conjunto dos comprimentos de onda. Luz invisível, como a ultravioleta e a infravermelha, é tão luz como a luz visível, só diferindo desta por o comprimento de onda ser menor ou maior. Com a detecção instrumental de luz invisível, a onda parecia ter ganho à partícula!

Mas a luz reservava-nos surpresas. Em 1905 as partículas de luz voltaram quando o físico suíço Albert Einstein se viu obrigado a introduzir a noção de “pacote” de luz (fotão) para descrever o arranque de electrões de um metal por luz ultravioleta. Graças a Einstein Newton estava vingado… A energia do fotão dependia do comprimento de onda: havia fotões ultravioletas, infravermelhos, e, com uma energia intermédia, fotões azuis, verdes e vermelhos. Como conciliar a descrição ondulatória, que funciona bem em certas circunstâncias, e a descrição corpuscular, que funciona bem noutras? Uma estranha teoria – a teoria quântica – conseguiu fazê-lo, impondo-se como a moderna teoria da luz. A luz propaga-se no espaço como uma onda, mas pode ser produzida ou apanhada como partícula. Hoje em dia conseguimos emitir luz fotão a fotão, evidenciando o seu carácter corpuscular, mas, se colocarmos um obstáculo com duas fendas à frente dessa luz, verificaremos que ela passa pelas duas, como seria de esperar de uma onda. A experiência desafia o nosso senso comum. Quem diz que o mundo tem de estar de acordo com o nosso senso comum? 


Termino com dois poemas meus. 

  Misteriosa luz


Desde o Big-Bang  corre pelo espaço
sem  aparentar o mínimo cansaço.
Sem concorrente na corrida
é, de antemão, a vencedora da  partida.
Durante a já longa viagem
foi criando vários laços na passagem
ao tornar iridescente o belo diamante
quando nele se reflete e se refrata,
ao cobrir o mar de um manto cor de prata,
ao ruborizar o céu à hora de alva  e ao  sol poente,
ao emprestar à lua um manto de luar,
ao tornar multicolor  o céu e o  mar,
ao brincar com  a chuva,  como se fora criança,
traçando no céu o arco da aliança,
ao espargir de cor a mãe natureza
que a ama com  fervor  e  a olha com  enleio.
Misteriosa luz, lasciva, bela.
Através dos vidros da janela vejo,
projetada no passeio,
a indelével sombra  dum longínquo amor.

In Entre margens(2013)

Arco-íris

Passeio no jardim das Tulherias,
o céu é cinza, o ar é baço.
Pelo espaço
ecoam doces melodias
que uma criança extrai da concertina.
Não sei se é menino ou se é menina,
só vejo as mãos e os olhos de um negro penetrante.
Um velho casaco do irmão, talvez do pai
cobre-lhe  a cabeça e sobre os ombros cai,
tentando protegê- la do frio que é cortante
É Abril, um Abril de chuva  e frio,
o dia é  sombrio.
No Céu, um arco íris imenso
cobre a cidade com um halo intenso.
Lá ao fundo o obelisco hirto e só,
recorda o Egipto, e um certo faraó.
Mais além o Arco do Triunfo e la Défense
"Honni soit qui mal y pense".
Para trás, o Louvre e a Catedral
ali à esquerda, sempre monumental,
a torre Eiffel
qual torre de Babel
onde se ouvem os  idiomas mais diversos,
são os turistas, por Paris dispersos.
Lá em cima, o Sacré Coeur, Monmartre,
esta é a cidade luz, da boémia e da arte
no país de Renoir, Rodin, Ravel  e Sartre,
Belmondo, Godard, Chevalier
do grande Le Corbusier,
de Descartes e Lavoisier,
de Aznavour, Piaff e Juliette
Paris dos Boulevards, de la Vilette,
do centro Pompidou, Beaubourg, Les Halles
do  Moulin Rouge e de Pigalle,
da Ópera,  da Madalena,
das pontes sobre o Sena.
É Abril, um Abril de chuva  e frio.
A música flutua no ar denso
e no Céu,  sombrio,
um arco íris imenso.
Tudo isto me fascina e me seduz:
Paris,  o som da concertina,
e  a  dispersão da luz

In Reflexões e Interferências (2002)



4 comentários:

  1. A luz sempre me fascinou. Ainda me lembro de ir assistir as tuas palestras sobre a luz no Vivacidade e de ficar encantada com o conhecimento deste fenómeno sem o qual não conseguiríamos viver. Portugal é um país cheio de luz, nem nós sabemos quão afortunados somos, mesmo em dias cinzentos como hoje. Oiço um concerto de Grieg e penso o que seria viver nos países escandinavos onde o sol se deita ao meio dia.....
    Os teus poemas são lindos....gosto sempre....

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  2. Obrigada pelo teu comentário. O Universo é fabuloso e a luz tem permitido desvendá-lo. Também gosto muito da luz e não gostaria de viver em lugares onde poucas vezes se vê o sol. O meu filho Nuno fez Erasmus em Lille e ainda esteve uns tempos a trabalhar lá na Faculdade mas os dias de sol faziam-lhe muita falta e em Lille eram poucos...
    Também gosto muito de Grieg. Quando fiz uma viagem aos países nórdicos, o guia norueguês era um indivíduo culto.Em todos os percursos de autocarro ele colocava música de Grieg e falava sobre a mesma.
    Ab
    Regina

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  3. Olá Regina
    Já não consigo surpreender-me com a sua cultura e o seu talento tão multifacetados. Mas também não posso evitar que a minha admiração por si aumente, de cada vez que me deparo com uma atividade sua.
    Tenho orgulho em ser sua amiga.
    Um beijo.

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  4. Graciete
    Fico-lhe muito grata pela admiração. Acredite que não sou assim tão talentosa e culta. Fico muito sensibilizada ao referir o orgulho que tem em ser minha amiga, mas creia que o sentimentos é mútuo.
    Tb eu tenho muito orgulho na sua amizade.
    Um gd ab
    Regina

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