Na década de 90, não posso precisar já o ano, eu e mais
duas colegas fomos convidadas pela Porto
Editora para constituir uma equipa de elaboração de um livro de problemas de
Física e Química para o 10 º ano (não o conceito habitual de problema como
exercício, mas um conceito de cariz construtivista). Estavam em perspetiva novos
programas para o ensino Secundário que, no caso da Física e da Química, estavam
a ser elaborados por uma equipa da qual faziam parte
Luís Silva e Jorge Valadares.
O nosso trabalho foi sendo construído na base do projeto de
programa que estava em discussão.
Muito contestado, o programa acabou por “cair” e o nosso
trabalho, de meses, foi por água abaixo sem que tivéssemos tido qualquer
compensação a não ser o prazer que nos deu.
Durante esses meses tivemos vários contactos com a Dra
Rosália Teixeira que sempre nos tratou de modo afável.
Entretanto eu trabalhava
já num projeto de divulgação da ciência para um público infantojuvenil,
através de texto poético.
Apresentei-o à Dra Rosália que me encaminhou para a Dra.
Maria João Aires Pereira,
ao tempo colaboradora da editora.
A recetividade não poderia ter sido melhor. De entre os
vários projetos começámos por selecionar um que seria o inicial e o meu filho
mais novo fez as respetivas ilustrações. Só que o projeto nunca mais avançava. Agora
porque era altura de editar os manuais escolares, depois por isto, depois por
aquilo. E assim passaram, pasme-se, dois anos, findos os quais recebi uma carta
da editora dizendo que não estava vocacionada para o tipo de projeto que eu
propunha.
Tentei contactar a Dra. Maria João Aires Pereira e a Dra
Rosália. Relativamente à primeira fui informada de que já não trabalhava na
editora e quanto à Dra Rosália tentei
duas vezes, mas estava indisponível.
Fiquei muito chocada com este procedimento mas como não sou
pessoa de cruzar os braços fui apresentar o projeto à Campo das Letras. Mostraram-se um pouco reticentes dado que se
tratava de um livro de uma autora totalmente desconhecida. Mas arriscaram e
fiquei-lhes sempre grata por isso. Em maio de 2006 foi publicado, pela Campo das Letras, o meu primeiro livro
para público infantojuvenil Era uma
vez...ciência e poesia no reino da fantasia.
Passado algum tempo telefonaram-me a comunicar que o livro
tinha sido incluído no PNL. Eu nem queria acreditar...Em 2008 foi publicada uma 2ª edição mas,
infelizmente, a Campo das Letras viria
a entrar num processo de insolvência.
Arranjei uma nova editora,
Gatafunho, com a qual editei
Ciência
para meninos em poemas pequeninos (1ª edição 2009, 2ª edição 2010)
e
Pelo
sistema solar vamos todos viajar(2010). O primeiro foi também incluído no
PNL e foi alvo de uma recensão pelo
IEC, U.Minho
O 2º consta
de uma lista de livros aconselhados pelo Centro de Ciência
Júnior ,
lista que contém os “
12 melhores livros
de divulgação científica para público infantojuvenil” como pode ler-se
aqui e
aqui.
A minha relação com a editora era (aparentemente) ótima.
Sabendo que passava por alguma dificuldades criei-lhe, graciosamente,
um
blog
que ainda hoje mantém.
Mas, ironia do destino, também esta editora não se portou como “pessoa
de bem” .Por incrível que pareça, continua sem me pagar direitos de autor. Mas
pior que isso, foi ter faltado a um compromisso que assumira. No âmbito das
celebrações do Ano Internacional da Química foi-me pedido um texto para uma
peça de teatro. Escrevi Breve História da
Química cuja edição foi patrocinada pela Sociedade Portuguesa de
Química(SPQ). A primeira apresentação da peça teve lugar no Rivoli, em 20 de
junho de 2011, sob o título O Grande
musical da Química. Da minha parte havia para com a SPQ o compromisso de que
na data da estreia o livro estaria nas bancas, compromisso esse que assumi
dado que a Gatafunho me garantiu até
à última hora que o livro estaria pronto para esse dia. Nem para esse, nem para qualquer outro. E na sequência desta
atitude deixou de atender o telefone e de me responder a qualquer outra forma
de contacto.
Tive que mudar de editora. A Breve História da Química foi editada pela 7dias6noites e saiu em Julho de 2011, cerca de um mês depois do
espetáculo no Rivoli.
Também este livro foi alvo das mesmas apreciações que Pelo sistema solar vamos todos viajar.
A história já vai longa, mas ainda há mais ironias do destino ....
Regresso a Era uma vez...ciência e poesia no reino da
fantasia.
Dado o processo de insolvência da
Campo das letras, a
Gatafunho tinha-me abordado no
sentido de reeditar o livro. Em face do que acima referi,
tal não sucedeu.
A editora
7dias6noites
dispôs-se a editá-lo o acaba de sair.
Os textos deste livro bem como os de Ciência para meninos em poemas pequeninos pertenciam todos ao
conjunto de textos que a Porto Editora assumira editar, no início dos anos 2000...
Há dias uma amiga ligou-me dizendo que o livro de Língua
Portuguesa da neta, que frequenta o 3º ano de escolaridade, continha dois poemas de Ciência
para meninos em poemas pequeninos.
Fiquei curiosa e qual não é o meu espanto ao ver que os poemas,
Diversidade e Mar, constam respectivamente nas página 58 e 152 do livro
Alfa, edição da Porto Editora, que tão pouco respeito mostrou pelo meu trabalho. .
Mais uma ironia do destino...
Diversidade
Era uma escola
muito colorida tão cheia de vida como nunca vi.
Aqui e ali
meninos negrinhos que vieram de Angola
jogavam à bola
com outros meninos também africanos, outros indianos,
outros
europeus da Europa de Leste, do Norte e
do Sul,
olhos de cor
verde, castanha e azul.
Os cabelos
eram dos mais variados: encaracolados,
claros e escuros, lisos,
esticados como aquele indiozinho tupi - guarani e um coreano de seu nome Li,
que tinha uns
olhinhos bem enviesados.
Havia um
menino que era timorense, outro
guineense e imaginem só,
até existia um menino esquimó.
Um grupo bailava e um outro cantava a uma voz só
um vira,
um tebe, um semba, uma morna, uma
marrabenta e até um forró.
Era
aquela escola, como um arco-íris, de múltiplas de cores.
Lembrava um canteiro repleto de flores.
Mar
Já
brincaste com a areia
e com
as conchinhas do mar?
Já
viste as ondas a ir,
para
logo a seguir voltar?
Encosta
um búzio ao ouvido
e fica
atento a escutar.
Parece
que se ouve o mar
a
contar os seus segredos.
Diz que
se sente doente,
que
está muito poluído.
Hoje é
um petroleiro,
amanhã
é um cargueiro
que
deita lixo para o mar.
E
também há muita gente
que
deita na praia lixo,
uma
garrafa, uma lata,
uma
pistola de esguicho,
uma
embalagem qualquer.
Ora
isso não pode ser
pois a
poluição mata algas e peixinhos.
Mata
até os passarinhos
que na
areia vão pousar
ou água
vão debicar
nas
pocinhas
dos rochedos.
Fiquei satisfeita por ver os poemas incluídos no livro mas confesso que preferia
vê-los num livro de qualquer outra editora.
Ironias do destino, Regina?!!!
ResponderEliminarSeja qual for a razão, estou aqui para a felicitar por mais um seu maravilhoso poema que devia ser ensinado a todos os meninos em nome da PAZ e da IGUALDADE.
Um grande abraço, Regina.
Guardado está o bocado ...
ResponderEliminarPublica-se tanta chachada hoje em dia, é confrangedor ver os tops da semana na Livraria Leitura e outras e não se dá valor a obras como as tuas. Não gosto de bajular ninguém, mas adoro os teus poemas para pequeninos e para graudinhos!
És muito persistente e ainda bem que foste recompensada.
Quanto às editoras, fazem o que querem, infelizmente.
Bjinho
Obrigada às duas e um grande beijinho
ResponderEliminarRegina
INFELIZMENTE A PORTO EDITORA FALHA NOS SEUS COMPROMISSOS, MAS FICO FELIZ PELA REGINA TER CONSEGUIDO QUE O SEU TRABALHO FOSSE PARA A FRENTE, E NÃO TIVESSE DESISTIDO.MUITOS PARABÉNS
ResponderEliminar