quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O método
Vale a pena refletir sobre o texto que segue, da autoria de Pacheco Pereira
O MÉTODO: NO DIA
ANTERIOR
"Quando o dinheiro da
família acaba não se pode ir ao casino porque não tem dinheiro para
jogar." (Passos Coelho)
É sempre o mesmo. Num dia
assiste-se á divulgação de um relatório qualquer, com algumas estatísticas
selectivas, cuidadosamente sublinhadas, em muitos casos de organizações com uma
agenda ideológica e politica, e noutros casos manipuladas de forma grosseira,
quando não falsas. O conteúdo é invariavelmente o mesmo: Portugal é um país de
privilegiados, os funcionários públicos são os que tem mais regalias na Europa,
os operários os mais bem pagos, os dias de férias mais numerosos, os subsídios
abundam, um estado social falido despeja a sua cornucópia de abundância sobre
gente que não quer trabalhar e espera tudo do paternalismo estatal. É o
casino.
Depois do resumo distribuído pela
LUSA, ou passado ao Correio da Manhã, de tais alarmantes números e
constatações, os blogues ligados ao poder, muitos escritos por assalariados
directos do governo, explodem de indignação. Imaginem lá até as mamas
implantadas recebem subsídios! O mundo estaria a acabar se não fosse a
determinação de Passos Coelho, Gaspar, Borges e Relvas (este é citado mais
prudentemente…) em corrigir os desmandos do “regabofe” que, de Cavaco a
Sócrates, mais os vícios de dependência dos portugueses, levou o país á
bancarrota.
Depois, a comunicação social
divulga sem verificação, sem contraditório e sem ouvir quem sabe sobre essas
matérias ou porque as estudou, ou as ensinou toda a vida, ou escreveu livros,
essa forma anti-mediática de expressão que dá muito trabalho a ler em vez de
uma rápida procura no Google. Muitas vezes, em debates fora do prime time,
quem verdadeiramente sabe sobe pelas paredes acima para tentar repor a verdade,
mas não vale a pena. O sistema foi feito para a mentira conveniente e uma série
de profissionais dessa mentira, em nome do marketing e da assessoria de
comunicação, estão aconchegados nos gabinetes ministeriais, para fazer essa sale
besogne de nos enganar.
O MÉTODO: NO DIA
SEGUINTE
Depois, no dia seguinte, uma
declaração ministerial, ou uma fuga de informações, anuncia a intenção do
governo de proceder a uma nova vaga de austeridade moral, para combater os
privilégios e repor a justiça social, que a neutra e preocupante estatística do
dia anterior exigia. Não faltam exemplos, entre os quais os mais recentes se
centram nos “estudos” que o primeiro-ministro disse ter sobre como é que o
“estado social” beneficia em primeiro lugar os que menos precisam, e sobre o
severo número de dias de subsídio de desemprego pagos na Europa, por comparação
com os excessos sumptuários dos portugueses, o que é pura e simplesmente falso.
Já disse e repito outra
vez: as armas da retórica do poder assentam nas velhas técnicas da omissão da
verdade e da sugestão de falsidade, a que se soma a velhíssima mentira. É por
tudo isto, e pela facilidade de circulação de tudo isto (como já se passava com
as estatísticas optimistas de Sócrates) que o espaço público é um lugar muito
mal frequentado em Portugal.
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Interessante o texto. A denúncia é necessária, mas deve ser acompanhada pela luta.
ResponderEliminarUm beijo.