domingo, 1 de maio de 2011
Memória serena
Aos fins de semana e em uma das refeições principais,, juntamo-nos todos, querendo dizer com “todos”: nós, os dois filhos , as duas noras e os quatro netos. Um primo que nasceu e vive no Maputo, de vez em quando manda-me umas mensagens referindo a saudade que tem do calor destes nossos encontros semanais.
Desta vez foi escolhido o Domingo, por coincidir com o Dia da Mãe.
Recordei-me do poema de João de Deus, A ENJEITADINHA que, muito sinceramente , hoje não acho um grande poema.
Aprendi-o na infância mas não me lembro se constava de algum livro de leitura ou se foi um dos inúmeros poemas que o meu pai me dizia, alguns deles ainda antes de eu saber ler.
Por que choras tu anjinho?
Tenho fome e tenho frio.
E só por este caminho.
Como a ave que caiu ainda sem plumas do ninho.
E tua mãe já não vive?
Nunca a vi em minha vida.
Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive.
És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e morreu.
Recordo-me que na altura me marcou muito pois só de pensar que poderia perder a minha mãe senti uma angústia indescritível.
Tive o privilégio de ter tido uma mãe fantástica e não é apenas o meu olhar, eventualmente pouco isento. Todas as pessoas que a conheceram recordam-na como uma pessoa excepcional.
Hoje senti muito a sua ausência mas também a sua presença.
Em tempos dediquei-lhe o poema anexo, ainda não publicado.
Memória serena
Ali, naquele sofá de couro,
está uma memória sentada.
Não é fantasma, é memória,
doce e serena como a luz do luar,
como o rio que desliza mansamente para o mar.
A mão, já enrugada,
pousa no braço do sofá de couro,
lá onde está marcada a mão real,
tantas vezes pousada.
Doce é o sorriso, profundo o olhar.
Na gola do casaco imaginado,
um alfinete de ouro com o nome gravado.
Ali, na memória sentada no sofá de couro.
Felizmente não a recordo muito perturbada, vítima de Alzheimer aos 58 anos. A imagem que sempre me surge é a de um senhora lindíssima, com uma belíssima voz de soprano, com mãos de fada e com um sorriso muito doce.
Esse sorriso também motivou um outro poema, este publicado no meu primeiro livro, Reflexões e interferências
Sorriso
Junto à campa da minha mãe
nasceram lírios no passado mês.
Alguns dos seus elementos,
o magnésio talvez,
já terão sido, por certo,
pertença da minha mãe.
Há momentos,
passava perto
de um lírio que ali cortei
e quando o olhar fixei,
pareceu-me ver alguém
que sorria para mim.
Doce, o sorriso, sem fim.
Por certo era a minha mãe,
só ela sorria assim.
Até sempre Mãe.
Desta vez foi escolhido o Domingo, por coincidir com o Dia da Mãe.
Recordei-me do poema de João de Deus, A ENJEITADINHA que, muito sinceramente , hoje não acho um grande poema.
Aprendi-o na infância mas não me lembro se constava de algum livro de leitura ou se foi um dos inúmeros poemas que o meu pai me dizia, alguns deles ainda antes de eu saber ler.
Por que choras tu anjinho?
Tenho fome e tenho frio.
E só por este caminho.
Como a ave que caiu ainda sem plumas do ninho.
E tua mãe já não vive?
Nunca a vi em minha vida.
Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive.
És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e morreu.
Recordo-me que na altura me marcou muito pois só de pensar que poderia perder a minha mãe senti uma angústia indescritível.
Tive o privilégio de ter tido uma mãe fantástica e não é apenas o meu olhar, eventualmente pouco isento. Todas as pessoas que a conheceram recordam-na como uma pessoa excepcional.
Hoje senti muito a sua ausência mas também a sua presença.
Em tempos dediquei-lhe o poema anexo, ainda não publicado.
Memória serena
Ali, naquele sofá de couro,
está uma memória sentada.
Não é fantasma, é memória,
doce e serena como a luz do luar,
como o rio que desliza mansamente para o mar.
A mão, já enrugada,
pousa no braço do sofá de couro,
lá onde está marcada a mão real,
tantas vezes pousada.
Doce é o sorriso, profundo o olhar.
Na gola do casaco imaginado,
um alfinete de ouro com o nome gravado.
Ali, na memória sentada no sofá de couro.
Felizmente não a recordo muito perturbada, vítima de Alzheimer aos 58 anos. A imagem que sempre me surge é a de um senhora lindíssima, com uma belíssima voz de soprano, com mãos de fada e com um sorriso muito doce.
Esse sorriso também motivou um outro poema, este publicado no meu primeiro livro, Reflexões e interferências
Sorriso
Junto à campa da minha mãe
nasceram lírios no passado mês.
Alguns dos seus elementos,
o magnésio talvez,
já terão sido, por certo,
pertença da minha mãe.
Há momentos,
passava perto
de um lírio que ali cortei
e quando o olhar fixei,
pareceu-me ver alguém
que sorria para mim.
Doce, o sorriso, sem fim.
Por certo era a minha mãe,
só ela sorria assim.
Até sempre Mãe.
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Já é o terceiro comentário que faço e desaparece. Não sei o que se passa com esta net.
ResponderEliminarComovi-me ao ler as tuas memórias serenas...também as tenho da minha Mãe, que faleceu há precisamente oito anos, dia 2 de Maio. Soube-o pelo telefone as 7 da manhã e nunca recuperei do trauma, odeio telefonemas durante a noite ou muito cedo...
A minha Mãe também era única, o dia 8 de Dezembro era celebrado com pompa e circunstancia, até tínhamos um disco de 45 rotações, comprado pelo meu Pai: La Fête des Méres :)
Vivi 30 anos longe dela, de 75 a 2003...tempo demais....tempo que já não volta, tempo que me deixa muitos remorsos e tristeza pelo que não experimentámos juntas...sei que dava valor a tudo o que faço e isso é muito importante. Todas as noites me despeço dela, olhando para a foto que está na minha mesa de cabeceira, em que ela sorri ao entrar para um ferry em Amsterdam.
Lindos poemas...recordações eternas.
Bjo
Esqueci-me de registar que a foto é maravilhosa. Acho que não tenho nenhuma szinha com a minha Mãe, éramos sempre mutos a querer disputar o lugar!
ResponderEliminarO teu sorriso de contentamento diz tudo e ela era realmente linda.
Bjo
Infelizmente nem todos têm boas recordações de suas mães. Conheço algumas situações, felizmente poucas. Mas, na maioria dos casos, a mãe deixa uma imagem indelével de ternura,entrega, altruísmo....
ResponderEliminarUm grande ab
Regina
A minha avó recitava muitas vezes a Enjeitadinha de que eu também não gosto muito.
ResponderEliminarTodas as mães normalmente deixam saudades. Eu sempre recordo a minha,com muita saudade e tristeza apesar de termos, por vezes, algumas pequenas desavenças. A minha Mãe também era lindíssima e sempre pronta a auxiliar os outros. Ia fazer 90 anos quando faleceu e esteve lúcida até à hemorragia cerebral que a matou num dia.
Quanto ao Dia da Mãe é dia que eu não comemoro porque,quanto a mim, apenas serve para incentivar o consumismo e não para homenagear a verdadeira Mãe que deve ser amada, homenageada e recordada todos os dias.
Só mais uma palavra. Os seus poemas são muito bonitos e uma grande homenagem à sua mãe.
Um beijo.
Olá Graciete
ResponderEliminarEu também não tenho o culto dos "dias..." e muito menos concordo com o consumismo que os rodeia. Mas os meus filhos fazem sempre questão de mimar um pouco mais a mãe no tal "dia"...
Um grande beijinho
Regina
Não concordo, Graciete, os meus netos fazem prendas lindas para a Mãe com materiais baratos e criatividade. Enquanto fazem estas prendas e as oferecem, pensam nela e no que ela gosta, aprendem a ser gratos, o que não acontece se estiverem a jogar jogos no computador num domingo banal.
ResponderEliminarBjo