Na altura não tive oportunidade de falar sobre a exposição, belíssima, aliás. Mas há dias, atravessando a pé o tabuleiro superior da ponte de D. Luís, o que já não fazia há muitos anos, perante o espectáculo deslumbrante que se oferecia aos meus olhos, com as pontes que se insinuavam perante a neblina, com o casario espelhado no rio, muitas das imagens da exposição começaram a afluir-me à mente envolvidas pelo Porto Sentido do Rui Veloso
E as estas imagens visuais e sonoras começaram a associar-se outras, nomeadamente aguarelas de António Cruz e obras mais recentes como as de Abreu Pessegueiro
Vieram-me também à mente vários poemas sobre o Porto. Incluo dois, porventura menos conhecidos. Da autoria de Jorge Sousa Braga estão publicados no seu livro Porto de Abrigo
É esta a cidade que o destino
te reservou. Uma cidade de
gente dura cuja maior
extravagância é um vaso
de sardinheiras na janela
de um ou outro edifício.
Tinhas sonhado com uma cidade branca mais a sul…
Esta cidade não é uma cidade é um vício
Pérgola
Assim despida rente ao mar
só de longe em longe se
vêm enredar em cada uma
das suas colunas as flores
brancas de espuma
Termino com três trabalhos meus: um poema, uma aguarela, e um acrílico
Miragem
Estou sentada no café do cais
aqui na Ribeira junto ao rio,
um passante segue pela rádio o desafio,
e, ao meu lado, uma jovem enlevada
olha com o olhar perdido a outra margem,
enquanto um casal recorda uma viagem.
Os demais conversam sobre tudo.
Aqui e além falares dispersos.
Aqueles ali creio que falam eslavo
e conversam com um ar muito sisudo
Na minha mesa está pousado um cravo
e o livro que ando a ler "Primeiros versos"
Não me apetece ler, de enamorada
que fico ao olhar esta paisagem
mista de sonho e de realidade,
nem sei se ela existe ou se é miragem.
Do outro lado, as caves imponentes;
atravesso a ponte e já me encontro em Gaia,
na vila nova que agora é cidade.
Vejo o Douro, os barcos rio acima
levam turistas e passam indolentes,
vejo as fachadas de granito, e bem por cima
ameaçando chuva o céu cinzento.
Um ar frio perpassa-me, é o vento
o tal a que chamam de nortada.
Regresso e inicio uma viagem,
entro num carro eléctrico, na paragem
e aí vou eu vagueando com o olhar,
S. Francisco, S. Pedro em Miragaia,
a Alfândega, Massarelos , vários cais.
O eléctrico avança um pouco mais
e do outro lado já vejo o Cabedelo,
o rio encontrou o Oceano, entrou no mar.
Difusos através da bruma,
uma traineira, um navio parado,
que para entrar na barra ao largo aguarda.
enquanto o mar se agita e regurgita espuma.
A difusão da luz torna tudo mais belo,
mas o meu passeio vai findar, não tarda.
O meu corpo está enregelado
e o vento desalinha-me o cabelo.
É quase noite, urge regressar
mas é difícil ter que abandonar
estas paisagens de bruma e de granito.
Não sei se adivinhando o meu pensar
uma gaivota solta um pio, aflito.
Esta tua entrada sobre a cidade mais romântica que conheço é ela própria um hino soberbo ao Porto. Como sabes, não sou de cá, como tu não és, mas estou apaixonada pela beleza misteriosa azul-acizentada, - as tuas pinturas expressam de uma forma estética muito bela as cores predominantes das casas e do rio - que me cativa sempre que saio, desço à Ribeira, vou ao lado de lá a Gaia ou me esqueço nas ondas da Foz.
ResponderEliminarNão me canso de dizer que esta é um cidade única, não pela riqueza arquitectónica ( que existe), mas pela sua peculiaridade, a sua localização geográfica, a sua História, a Vida quotidiana, os sentimentos que transmite, as imagens que nos oferece.
O teu poema merecia ser musicado por alguém que soubesse transportá-lo para um patamar ainda mais místico.
É bom começar o Domingo a ler estas linhas.
Obrigada, Regina, de quem já tudo espero, mas que me surpreende em cada dia que por aqui passo.
Abraço grande
É quase meio dia e acabo de acordar... Resolvi vir ao blogue. Embora tarde, não podia começar melhor o dia...
ResponderEliminarDe facto, tenho viajado por quese toda a Europa com pequenas incursões em África e na América Latina. Considero que a cidade do Porto tem uma mística, que não se encontra facilmente em outras cidades
Obrigada pelos teus comentários que a amizade empolga sempre um pouco...
Bjs
Regina
Olá Regina. Mais um lindo post. O Porto é de facto uma cidade linda, cheia de História que até muitos portuenses (eu incluída) conhecem mal. Mas a leitura do seu poema e as suas aguarelas despertam em nós um dese jo imenso de a visitar com a atenção e o carinho que ela merece. Por isso eu, para o próximo ano lectivo, vou frequentar as aulas de"Conhecer o Porto Contemporâneo", se tudo correr bem entretanto. E sabe uma coisa? A sua falta vai ser muito sentida na UPP. Até eu, se a Regina continuasse , voltava a frequentar a Física, até porque sou trirepetente.
ResponderEliminarUm grande abraço de muita amizade e consideração.
Obrigada pelo seu comentário.Também tenho pena de deixar a UPP mas reconheço que não consigo conciliar tudo e isso causa-me muito stress. Mas irei aparecendo
ResponderEliminarBjs
Regina