Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 24 de abril de 2010

Dois registos...

1º registo
Ontem dia 23 de Abril, fez um ano que a minha maior amiga partiu. Nascemos precisamente no mesmo dia e no mesmo ano, fomos colegas de Faculdade e foi (é) madrinha do meu segundo filho.
Durante o dia, envolvida no 1º Encontro de Literatura Infanto – Juvenil da S.P.A, que decorreu ontem e hoje na BMAG, esqueci um pouco a tristeza que a data me evoca.
Mas ao fim do dia, na missa de aniversário, a saudade bateu muito forte. As palavras começaram a atropelar-se na minha cabeça, não as do padre, que essas não as ouvi, mas outras que ganhavam asas na minha mente


Reunidos amigos e família,

volvido um ano sobre a tua partida.

O coração apertado, turvam-se a visão e o ouvido.

Das palavras do prelado, nem uma só ouvi.

Palavras de circunstância, adequadas à ocasião,

ou talvez não.

Dos teus filhos, frases que subentendo,

através de palavras soltas

que me chegam carregadas de emoção e de saudade-

- generosidade, exemplo de vida.

Que grande privilégio teres sido minha amiga

2º Registo


Como referi no registo anterior, decorreu na BMAG o 1º Encontro de Literatura Infanto – Juvenil da S.P.A




A par deste programa houve, no dia 23, encontros entre crianças e escritores. Como o escritor Vergílio Alberto Moreira não pôde estar presente (entrou nesse dia no Clube dos Avós a que eu já pertenço) fui “substituí-lo” junto de cerca de 40 crianças. É algo que gosto sempre de fazer…

Mas regressemos ao programa.

Embora com muito pouco tempo dedicado a questões que o público pudesse colocar, as entrevistas correram bem, umas melhores que outras, obviamente.

Destaco a entrevista à ilustradora Teresa Lima. Foi muito interessante. A meio relatou um episódio que aconteceu com a ilustração do livro, Lá de cima, cá em baixo, de António Mota. Numa das ilustrações figurava uma girafa, intencionalmente sem cabeça, em que o pescoço terminava no topo da página.
A gráfica achou por bem descer a girafa e adaptar-lhe uma cabeça e, tanto gostou do novo desenho, que o usou para colocar na contra-capa… E pensar que o meu ilustrador ( o meu filho Nuno) ficou muito aborrecido porque na gráfica deslocaram um pouco as ilustrações…

Foi muito enriquecedora a intervenção de Osvaldo Silvestre que se centrou essencialmente em torno de duas questões: Alice no País das maravilhas é um clássico? É um livro para crianças?

Foram também muito interessantes as intervenções dos grupos Pé de Vento, Quinta Parede, Os gambozinos e do actor Carlos Moreira

De entre os vários poemas que foram lidos seleccionei alguns para trazer aqui

O Mosquito Escreve

O mosquito pernilongo trança as pernas, faz um M,

depois, treme, treme, treme,

faz um O bastante oblongo, faz um S.

O mosquito sobe e desce.

Com artes que ninguém vê, faz um Q,

faz um U, e faz um I.

Este mosquito esquisito

cruza as patas, faz um T.

E aí, se arredonda e faz outro O,

mais bonito.

Oh! Já não é analfabeto, esse insecto,

pois sabe escrever seu nome.

Mas depois vai procurar alguém que possa picar,

pois escrever cansa, não é, criança?

E ele está com muita fome.

(Cecília Meireles)



O Cometa
Lá vem lá vem o cometa

Tema cauda branca a cabeça preta

Que não se intrometa na sua rota nenhum planeta

E que ninguém tente cortar-lhe o cabelo ou não fosse de gelo

Nunca noiva alguma teve um vestido assim feito de espuma

Lá vai lá vai o cometa. Tem a cauda branca a cabeça preta

Se o não viste passar daqui a cem anos ele há-de voltar

(Jorge Sousa Braga)



Coisas que não há que há

Uma coisa que me põe triste

é que não exista o que não existe.

(Se é que não existe, e isto é que existe!)

Há tantas coisas bonitas que não há:

coisas que não há, gente que não há,

bichos que já houve e já não há,

livros por ler, coisas por ver,

feitos desfeitos, outros feitos por fazer,

pessoas tão boas ainda por nascer

e outras que morreram há tanto tempo!

Tantas lembranças de que não me lembro,

sítios que não sei, invenções que não invento,

gente de vidro e de vento, países por achar,

paisagens, plantas, jardins de ar,

tudo o que eu nem posso imaginar

porque se o imaginasse já existia

embora num sítio onde só eu ia...

(Manuel António Pina)


Mistérios da escrita

Escrevi a palavra flor.

Um girassol nasceu no deserto de papel.

Era um girassol como é um girassol.

Endireitou o caule, sacudiu as pétalas

e perfumou o ar.

Voltou a cabeça à procura do sol

e deixou cair dois grãos de pólen

sobre a mesa.

Depois cresceu até ficar

com a ponta de uma pétala fora da Natureza.

( Álvaro Magalhães)


HISTÓRIA DO SR. MAR

Deixa contar...

Era uma vez

O senhor Mar

Com uma onda...

Com muita onda...

E depois?

E depois...

Ondinha vai...

Ondinha vem...

Ondinha vai...

Ondinha vem...

E depois...

A menina adormeceu

Nos braços da sua Mãe...

(Matilde Rosa Araújo)



O penúltimo momento do encontro foi a apresentação do livro “Camões- O super-herói da Língua Portuguesa” de Maria Alberta Meneres. Maria Alberta Menéres completou 80 anos e está a ser homenageada pela ASA. A filha, Eugénia de Melo e Castro, acompanhou-a e a entrevista, muito bem conduzida por José António Gomes, e a que responderam mãe e filha, foi de facto um momento alto do programa.
Do livro fica um excerto

Como disse José António Gomes, o livro mostra que Camões continua na "continuação"











A finalizar e porque de poesia infantil se tratou, deixo um poema do meu último livro para crianças

Poesia

Perguntaram à Maria

o que era a poesia

e a Maria respondeu:

É saber olhar o Céu,

ouvir as ondas do mar,

e sentir a maresia,

as aves a chilrear,

desde que o sol se levanta,

deixar a areia escapar

por entre os dedos da mão,

é saber ouvir o vento

que traz sempre uma mensagem

quando chega de viagem.

É acarinhar a terra,

cada animal, cada planta,

cada pedra, cada rio.

É cantar ao desafio com o melro,

o gavião, e também a cotovia,

o pardal , o rouxinol.

É saudar o arco-íris

num dia de chuva e sol

2 comentários:

  1. Sei que sentes ainda muito a falta dessa tua Amiga. Elas continuam cá, somos nós que não conseguimos abstrair-nos da falta da sua presença física.
    É bom ter Amigos desses.

    Quanto ao Encontro, deve ter sido bem interessante. Quando trabalhei para a Editora, conheci muitos ilustradores, uns mesmo bons, outros menos, mas era uma vertente que me interessava muitíssimo e que achava importante sobretudo nos manuais do básico.
    Achei graça a essa discussão sobre a "Alice", pois no meu blogue afirmei que era um livro para crianças, pois tudo na história é um disparate total, um nonsense, que a criança aceita e percebe. Nós não!! Há livros que não são para crianças, embora divulgados para elas, outros há que são duma pobreza de ideias franciscana, já tenho lido alguns aos meus netos ( mesmo os da I. Alçada e Co.) que penso qualquer avó inventava uma história mais gira para contar sem precisar de ler o livro.
    Adorei o poema " Coisas que não há...". É muito original.

    Obrigada pela reportagem, gosto sempre de saber acerca destes eventos, mesmo quando não estou lá. A verdade é que não me sinto com grande saúde neste momento - problemas de artrite muito chatas - e não aguento estar muitas horas fora de casa ou a andar por aí. Nem pintar consigo.

    Bjo

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  2. Olá Regina. Só um grande abraço para não ser repetitiva em relação a tudo o que conheço de si.

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