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Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 9 de janeiro de 2010

Decompondo o arco-íris

Decompondo o arco-íris é o título de uma obra, cuja leitura aconselho. O autor é Richard Dawkins, professor na Universidade de Oxford e divulgador científico


E é precisamente sobre o arco-íris o post de hoje que inicio com o poema Física


Física

Colho esta luz solar à minha volta,

No meu prisma a disperso e recomponho:

Rumor de sete cores, silêncio branco.

Como flechas disparadas do seu arco,

do violeta ao vermelho percorremos

O inteiro espaço que aberto no suspiro

Se remata convulso em grito rouco.

Depois todo o rumor se reconverte

tornam as cores ao prisma que define

À luz solar de ti e ao silêncio

Este poema é da autoria do nosso prémio Nobel, José Saramago e está publicado em “Poemas Possíveis”.

São vários os poetas que nos falam da poesia do arco-íris, nomeadamente Gedeão, no belíssimo poema, “Saudades da terra” de que aqui deixo um excerto.

Uns olhos que me olharam com demora,

não sei se por amor se caridade,

fizeram-me pensar na morte, e na saudade

que eu sentiria se morresse agora.

E pensei que da vida não teria

nem saudade nem pena de a perder,

mas que em meus olhos mortos guardaria

certas imagens do que pude ver.

Gostei muito da luz. Gostei de vê-la

de todas as maneiras,

da luz do pirilampo à fria luz da estrela,

do fogo dos incêndios à chama das fogueiras.

Gostei muito de a ver quando cintila

na face de um cristal,

quando trespassa, em lâmina tranquila,

a poeirenta névoa de um pinhal,

quando salta, nas águas, em contorções de cobra,

desfeita em pedrarias de lapidado ceptro,

quando incide num prisma e se desdobra

nas sete cores do espectro(…)

Na minha modestíssima poesia também o arco-íris emerge em vários poemas dois dos quais coloco a seguir

As palavras não ditas

Tu não sabias, mas no silêncio que achaste insuportável,

naquelas palavras que eu não disse,

havia o brilho do sol, a luz do luar, um rio a fluir,

um murmúrio de mar, todo o arco- íris, um cheiro a jasmim,

um leve bater de asas, um toque de cetim, o sussurrar do vento,

e havia o tempo, um tempo ilimitado

que hoje jaz inerte, abandonado.

Tu não sabias, por isso achaste imperdoável

o silêncio das palavras que não disse.


Arco-íris

Passeio no jardim das Tulherias o céu é cinza, o ar é baço.

Pelo espaço ecoam doces melodias

que uma criança extrai da concertina.

Não sei se é menino ou se é menina,

só vejo as mãos e os olhos de um negro penetrante.

Um velho casaco do irmão, talvez do pai

cobre-lhe a cabeça e sobre os ombros cai,

tentando protegê- la do frio que é cortante

É Abril, um Abril de chuva e frio, o dia é sombrio.

No Céu, um arco íris imenso cobre a cidade com um halo intenso.

Lá ao fundo o obelisco hirto e só, recorda o Egipto, e um certo faraó.

Mais além o Arco do Triunfo e la Defense "Honni soit qui mal y pense".

Para trás, o Louvre e a Catedral

ali à esquerda, sempre monumental, a torre Eiffel, qual torre de Babel,

onde se ouvem os idiomas mais diversos,

são os turistas, por Paris dispersos.

Lá em cima, o Sacré Coeur, Monmartre,

esta é a cidade luz, da boémia e da arte

no país de Renoir, Rodin, Ravel e Sartre, Belmondo, Godard, Chevalier

do grande Le Corbusier, de Descartes e Lavoisier, de Aznavour, Piaff e Juliette

Paris dos Boulevards, de la Vilette, do centro Pompidou, Beaubourg, Les Halles

do Moulin Rouge e de Pigalle, da Ópera, da Madalena, das pontes sobre o Sena.

É Abril, um Abril de chuva e frio.

A música flutua no ar denso e no Céu, sombrio, um arco íris imenso.

Tudo isto me fascina e me seduz: Paris, o som da concertina, e a dispersão da luz


Desde sempre o arco-íris constituiu uma fonte de fascínio que importava explicar. Aristóteles considerava que o seu aparecimento implicava a existência do Sol, de uma nuvem e de um observador numa determinada posição geométrica. Esta interpretação não era compatível com a Bíblia pois, segundo a mesma, Deus teria criado o arco-íris após o Dilúvio. Admitindo embora a sua inexistência antes do dilúvio, os filósofos da Idade Média aceitavam na generalidade as ideias de Aristóteles sobre o arco-íris embora sobre as mesmas tivessem surgido algumas variantes ao longo dos séculos.

Explicações do arco-íris a partir de fenómenos como a reflexão a refracção da luz são propostas por Bacon e outros filósofos medievais.

A partir do século XVIII as explicações especulativas começam a dar lugar a explicações que assentem numa concordância entre as teorias e os resultados experimentais

Permitindo a entrada de luz do Sol através de um pequeno orifício, dotado de uma lente convergente, Newton fez incidir um raio luminoso num prisma de vidro triangular, observando a formação, num alvo, de uma imagem oblonga do Sol que apresentava vários halos sucessivos coloridos. Este fenómeno, designado por dispersão da luz branca, era interpretado como a corrupção da luz branca pura (a sua passagem por um meio adulterador produzia as várias cores). Uma obstrução menor produzia o vermelho e uma obstrução maior o azul. Prosseguindo a sua experiência, Newton intercalou no percurso dos raios coloridos um segundo prisma, numa posição invertida relativamente ao primeiro, observando a emergência de um raio de luz branca. Concluiu então que, na passagem no primeiro prisma a luz branca se decompunha no conjunto de cores observado, voltando a surgir no segundo prisma devido à recombinação das cores. Isolando raios singulares das cores obtidas, verificou que não era possível voltar a decompô-los. Reconheceu que a luz branca não é pura, mas sim uma mistura de luz de cores diferentes.
Ao conjunto de cores observadas, Newton atribuiu o nome de “espectro”, palavra mais relacionada com espíritos, mas também utilizada para referir as imagens produzidas na “câmara escura”. Dividiu, então, o espectro em sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta, numa analogia com a escala musical de sete notas, uma representação que se manteve ao longo dos anos apesar de o espectro consistir de um número infinito de cores
Efectivamente, William Herschel (1738-1822) analisou o espectro solar colocando três termómetros ao longo do espectro produzido por um prisma de vidro e verificou que as temperaturas aumentavam da zona do violeta para a zona do vermelho. Após reparar neste padrão, decidiu medir a temperatura na zona invisível do espectro, “para lá” do vermelho e notou que nesta região se verificavam os maiores aumentos de temperatura. Esta situação indicava a existência de uma luz invisível responsável pelos efeitos térmicos. Essa nova radiação era reflectida, refractada, absorvida e transmitida de maneira similar à luz visível, sendo diferente apenas por não ser visualizada pelos nossos olhos. Esta forma de luz que surge “para lá” do vermelho é hoje conhecida por radiação infravermelha.

Façamos uma pequena interrupção para falar de Herschel. Foi um astrónomo e músico muito conhecido mas enquanto que Borodin ficou mais conhecido como músico, a Herschel associamos geralmente o astrónomo que se tornou famoso essencialmente pela sua descoberta do planeta Urano, em 1781.

Mas regressemos ao espectro. Já se conhecia o efeito da luz visível sobre sais de prata. Em 1801, Wilhelm Ritter observou esse efeito com luz invisível “para lá” do violeta, radiação que actualmente se designa por ultravioleta.
Alguns anos mais tarde, entre 1885 e 1889, Hertz (1857-1894), utilizando um circuito eléctrico para produzir faíscas num pequeno interruptor, verificou que estas originavam ondas transmitidas pelo ar e detectáveis, num circuito semelhante, a alguns metros de distância. Estas ondas hertzianas (também designadas por ondas de rádio) eram apenas mais um tipo de luz, pertencente ao espectro electromagnético, “para lá” da radiação infravermelha
Em 1895 Roentgen (1845-1923), descobre uma nova radiação invisível, a radiação X , “para lá” do ultravioleta.

Hoje sabe-se que o espectro é assim constituído:





Como vemos o espectro visível é uma ínfima parte do espectro. Para além disso varia muito de uma espécie animal para a outra. Cães e gatos detectam essencialmente radiação azul e amarela, cobras vêm no infravermelho e abelhas no ultravioleta, cores para as quais somos cegos.

6 comentários:

  1. Modestíssimos Regina? Lindos!!!!!
    Mas tenho uma dúvida relativamente às temperaturas associadas às cores. Quando a encontrar pergunto-lhe.
    Um grande abraço.

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  2. Graciete
    É sempre muito generosa quando fala da minha poesia. Obrigada mas eu costumo dizer que os amigos usam as lentes da amizade que são convergentes no que respeita
    às qualidades (que ampliam) e divergentes relativamente aos defeitos (que reduzem).
    Bjs
    Regina

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  3. Não concordo Regina. Os amigos verdadeiros devem ter uma opinião crítica. Um abraço.

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  4. Obrigada pela amizade Graciete
    Um grande abraço
    Regina

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  5. É mesmo ser modesto quem escreve poesia assim e não lhe dá o devido valor...
    Quão bom é poder ler nas linhas e entrelinhas destes seus poemas a ciência que nos permite ver e apreciar o mundo de uma forma muito peculiar...

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    1. Bem haja pelo seu comentário mas faltam-me engenho e arte para poder expressar o encanto da ciência em todo o seu esplendor
      Regina

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