Há já
alguns meses que a minha dentista me tratou um dente que, em certas
circunstâncias, continua a doer-me. Como não conseguia detetar o
problema sugeriu-me que fosse a um dentista em Espinho, por este
possuir aparelhagem muito avançada. Fui lá hoje e de fato detetou
algo. Já tenho um CD com o exame que levarei à dentista na próxima
consulta.
Isto para referir que hoje fui a Espinho. O meu transporte
favorito é o comboio e como cada vez gosto menos de conduzir, levantei-me
cedo e apanhei o autocarro 206 (que passe perto de minha casa) e vai
para Campanhã. Ali apanhei um comboio para Espinho. Sentei-me do
lado da costa pelo que pude ir contemplando primeiro o rio e depois
o mar. Cheguei a Espinho ainda não eram 9h. A consulta era às 10 pelo que fui
caminhando lentamente, cerca de 800m, da estação até ao
consultório, cuja localização tinha identificado no Google Maps.
Chegada
ao consultório, tive sorte. Estava aberto. Habitualmente só abre às 10h. Enquanto aguardava a consulta, na parede em frente estava projetado um arco-íris belíssimo.
Após a consulta e, quando retomei o caminho de regresso, o mar ali tão perto tentou-me e, em vez de ir diretamente para a estação, fui até à beira-mar. Vi várias pessoas caminhando, correndo, e perguntei se havia algum passadiço que me levasse até à Praia da Granja. Disseram-me que sim mas que eram cerca de 4 km pelo que nunca demoraria menos de 1h.
Após a consulta e, quando retomei o caminho de regresso, o mar ali tão perto tentou-me e, em vez de ir diretamente para a estação, fui até à beira-mar. Vi várias pessoas caminhando, correndo, e perguntei se havia algum passadiço que me levasse até à Praia da Granja. Disseram-me que sim mas que eram cerca de 4 km pelo que nunca demoraria menos de 1h.
Como
adoro caminhar, não hesitei. Demorei 45 min mas valeu a pena….
Ao chegar, dirigi-me
para a estação, bastante abandonada, embora na foto não se note muito.
Enquanto aguardava o comboio, lembrei-me de Sophia que, na Granja, escreveu alguns dos seus poemas, nomeadamente um em que evoca a casa onde passava férias
Casa
branca em frente ao mar enorme,
Com o
teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu
silêncio intacto em que dorme
O
milagre das coisas que eram minhas.
A ti eu
voltarei após o incerto
Calor
de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados
os fantasmas, percorridos
Os
murmúrios da terra indefinida.
Em ti
renascerei num mundo meu
E a
redenção virá nas tuas linhas
Onde
nenhuma coisa se perdeu
Do
milagre das coisas que eram minhas.
A casa
pode ser vista num breve documentário aqui
http://portocanal.sapo.pt/noticia/30717/
http://portocanal.sapo.pt/noticia/30717/
Com os
olhos ainda "inundados" de mar, entrei no comboio apinhado de gente,
na sua maioria jovens. Entre tantos, apenas um (neste caso,uma) me ofereceu o
lugar. Agradeci e elogiei o seu gesto mas não aceitei porque não
precisava. Provavelmente não seria esse o caso de muitos outros
idosos que ali viajavam de pé.
Na minha mente começou a emergir um "soneto", glosando o grande Camilo no seu belíssimo poema "Os amigos" que tantas vezes ouvi dizer ao meu pai.
Regresso à glosa...Há algo que falha na educação da nossa juventude. De “quem” é a responsabilidade? Da família? Da escola? Da sociedade em geral?
Na minha mente começou a emergir um "soneto", glosando o grande Camilo no seu belíssimo poema "Os amigos" que tantas vezes ouvi dizer ao meu pai.
Granja.
No ar, o cheiro a maresia
O
comboio repleto. Jovens sentados,
(nem um
só lugar vago existia),
nada
mais viam, ao celular ligados.
Não
sentiam o cheiro a maresia.
Não
olhavam o mar ali ao lado.
No seu
mundo virtual não existiam
vários
idosos, em pé com ar cansado.
Só
uma, entre tantos reparou
e o
lugar de imediato ofereceu,
gesto
hoje raro, excecional.
Impávidos,
os demais continuaram
sem
olharem mar , dunas ou céu,
concentrados
apenas no mundo virtual.
E agora o belíssimo poema de Camilo. Estou em crer que me desculparia pela glosa...
OS AMIGOS
Amigos,
cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!
Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.
Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!
Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.
Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!
Regresso à glosa...Há algo que falha na educação da nossa juventude. De “quem” é a responsabilidade? Da família? Da escola? Da sociedade em geral?
E
lembrei-me da comunicação de Nuccio Ordine sobre esta sociedade em
que importa o ter e não o ser. E a propósito dessa comunicação, para além de poder ser lida on-line como já referi em mensagem
anterior, também pode agora ser ouvida aqui https://ffms.pt/conferencias/detalhe/2324/a-utilidade-dos-saberes-inuteis
Retomo a viagem. Só em General Torres ficou vago um lugar perto
de mim. Sentei-me e ainda tirei mais algumas fotos de dentro do
comboio.
Saí em
S. Bento, por volta do meio dia. Aproveitei para ir à FNAC em Sta
Catarina, porque a prenda de aniversário do meu filho mais novo (e
família) foi um voucher para uma “Fugas a dois”.
Achei a
ideia muito gira mas o meu marido está cada vez com menos vontade de
viajar no país. Excetuam-se as viagens ao Nordeste ( e até mesmo
essas já são muito menos frequentes). Acabei por ir trocar o
voucher. Ia trocar por livros mas, imagine-se, troquei por uma
carteira. Já há muito que andava para comprar uma em tom cinza
esverdeado pois a que tenho, e de que gosto muito, já está a
precisar de substituição. Não fazia a mínima ideia de que na FNAC
se vendiam carteiras, mas ao vê-la não hesitei. E o mais
interessante é que o seu preço foi precisamente o do voucher... ...
Regressei
a casa a pé.
Depois de almoço chegaram os meus netos. Hoje, greve
nas escolas, valeu-nos a empregada que vai à sexta-feira, pois
causar-me-ia muito transtorno ter que adiar a consulta. Até isso
correu bem.
Soube-me bem o dia...
E porque falei de mar e rio cito Heitor Villa Lobos
Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil.(...)Dele a Canção das água claras que podem ouvir aqui https://www.youtube.com/watch?v=GzQ4VlPib0k
Além de músico Dorival Caymni também pintava. Deixo um quadro sobre o mar
E porque também tive por companhia o Douro, deixo um quadro de Abreu Pessegueitro, pintor de que gosto muito
E porque falei de mar e rio cito Heitor Villa Lobos
Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil.(...)Dele a Canção das água claras que podem ouvir aqui https://www.youtube.com/watch?v=GzQ4VlPib0k
Deixo também a canção O Mar de Dorival Caymni https://www.youtube.com/watch?v=WdrytEpMnw8
E porque também tive por companhia o Douro, deixo um quadro de Abreu Pessegueitro, pintor de que gosto muito