A Poesia Vai Acabar
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —
Este é um poema de Manuel António Pina, autor que podemos ouvir aqui a propósito do seu último livro, Como se desenha uma casa .
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —
Este é um poema de Manuel António Pina, autor que podemos ouvir aqui a propósito do seu último livro, Como se desenha uma casa .
Trata-se do poeta Ivo Machado
Na madrugada do dia 2 de Dezembro de 1967
começou a grande tristeza de minha mãe. Ainda
Neil Amstrong não pisara a lua, nem meu pai
gozava salário de gente, tão pouco conhecia
o rosto à liberdade
[no meu país – diziam estrangeiros – os utópicos
viviam sob silêncio, masmorra e nó]
Enfim, marcou-me a data
por ser esse o dia da morte de minha avó.
Ao contrário de meus filhos nasci em escuridão,
como meus pais, como o meu país, mas apesar
da tristeza de minha mãe e do salário de meu pai,
de minha avó herdei uma lição: nenhum tirano
mata a poesia ou proíbe um aperto de mão.
In, Os Limos do Verbo, 2005
Quase a terminar, um poema do autor brasileiro Carlos Vogt. e um outro, muito modesto, de minha autoria
PRAGMATISMO ESTÉTICO
A disciplina é quase tudo
menos o dia-a-dia
o poema é quase nada
mais a inspiração
na falta solidária do mesmo quase
faz-se o poema
vive a poesia
Carlos Vogt
Carlos Vogt
Poesia
por dentro amarela,é branca por fora.
Colhi duas.
Uma decidi comê-la
cuidando assim engravidar de poesia
Mas a poesia, tão arredia, riu-se de mim.
Cheia de mágoa, à beira da água
lancei ao mar a outra flor, daquelas duas.
E fiquei a olhar, a flor boiar
na onda que vai e que logo vem,
que se reflecte e se refracta,
que interfere e se difracta.
A luz do sol bateu no mar fê-lo de prata,
reflexão também.
Por entre os meus dedos,
a areia fluía suavemente.
A flor boiava dolentemente
e a onda, sempre a ir e voltar,
e o som do mar com seus segredos
e o gosto a sal a pairar no ar
deixando um cheiro a maresia.
Então, por magia,
luz , céu e ar, onda do mar, no ir e voltar,
areia, sal , flor a boiar, tudo em redor foi poesia
E, para fechar com chave de ouro, O poeta é um fingidor na voz de João Villaret
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
Hoje é dia da Poesia?
ResponderEliminarOu promulgaste tu o Dia por tua alta recreação?
Está um dia lindo e há poesia no ar...quer seja ou não o Dia dela.
Bjo
Todo o tempo é de poesia
ResponderEliminarDesde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.
António Gedeão
Bjs
Regina
A poesia e a Regina convivem tão bem que, até o programa das suas aulas que tive o privilégio de frequentar na UPP, era um autêntico poema.
ResponderEliminarUm beijo.
Graciete
ResponderEliminarÉ tão generosa sempre nas suas palavras.
Obrigada minha amiga
Bjs
Regina