Tem-me faltado tempo e também alguma
disposição para escrever. Em compensação, tenho lido a um ritmo maior do que
ultimamente tenho conseguido. Estou a reler poesia (desta vez Albano Martins, Eugénio de
Andrade, Casimiro de Brito e Ana Luísa Amaral) e a ler um livro novo(para mim). É de Patrick Modiano e tem por título “Na
rua das lojas escuras”. Patrick Modiano, Nobel em 2014, ganhou o o Prémio Goncourt, em 1978, com o livro que estou a ler
Aos sábados geralmente junto toda a família
ao almoço, mas o meu filho mais velho e família, no carnaval, aproveitam para
fazer uma semana de férias na neve pelo que só regressam amanhã à tarde. O mais novo e família virão almoçar amanhã para ainda nos podermos encontrar todos .
Aproveitando o sábado ”livre” fomos almoçar
à praia dos ingleses, onde vamos com relativa frequência (bem menor do que
aquela que eu gostaria mas o meu marido gosta pouco de sair...).
A luz intensa, o céu azul, o mar soberbo.
As
ondas batiam no paredão e “pulavam “ por
cima do mesmo.
Ao fundo um barco de pesca, pequeno, enfrentava a ondulação.
Levei
comigo “Eugénio de Andrade”. O seu
poema Mar de Setembro a descrever
o mar de Fevereiro que ali se me ofertava
Mar
de Setembro
Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
Fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves, só
alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto,
puríssimo, doirado.
Ao nosso lado estava um casal de ingleses.
E a propósito de ingleses, vou contar um episódio que ocorreu na 5ª feira e que me fez bem ao ego...
Como é habitual, à quinta feira de manhã faço
voluntariado no Hospital de Santo António, onde conjuntamente com um “colega”, orientamos as
pessoas que entram pelo edifício “novo “ e pretendem dirigir-se a diferentes consultas.
As pessoas dirigem-se ao funcionário e, se o local da consulta é de acesso complicado ou se o doente tem dificuldades
de qualquer ordem (idade avançada, vem de uma zona rural distante, é analfabeto
ou quase, etc), nós ajudamo-lo a chegar ao local.
A certa altura o funcionário dirige-se a
mim e pergunta: A senhora fala inglês?
Creio já ter referido aqui que tenho bastante facilidade em
falar e entender as línguas latinas mas não se passa o mesmo relativamente à
língua inglesa, que vou lendo, mas tenho dificuldade em falar e mais ainda em
entender.
Tratava-se de um senhor escocês. Disse-lhe
da minha dificuldade e pedi-lhe que falasse devagar para eu tentar entendê-lo.
O senhor assim fez e conversámos muito bem durante o percurso que tivemos que
fazer para chegarmos ao local onde a esposa, inglesa, se tinha dirigido para uma
consulta.
Perguntei se eram turistas e fiquei a saber
que vivem há 6 anos em Portugal,
nomeadamente em Amarante e que adoram viver cá. Mas o mais interessante é que o
pai, com 92 anos, vive também em Amarante no mesmo prédio porque, quando veio
visitá-los pela primeira vez, gostou tanto de Portugal que adquiriu um apartamento
junto do filho.
Quando nos despedimos comentou:
Disse
que não sabe falar inglês mas eu gostaria de saber falar português tão bem como
a senhora fala inglês.
Em
terra de cegos quem tem um olho é rei,
diz o ditado. Mesmo assim, foi bom para o meu ego.
Regressando ao mar....
Deixo duas obras musicais sobre o mar, o 2º andamento de La mer de Debussy e O Mar de
Dorival Caymmi que tantas vezes ouvi cantar a minha mãe
Deixo também a obra Ondas de Turner, talvez o pintor que mais pintou o mar
Si hay un sentido constante en las acuarelas de Turner (y también en su pintura al óleo) creo que es el ofrecer a la mirada cielo y mar, arriba y abajo, enlazados en una unidad cósmica. Por ejemplo, mediante el arcoiris, tendido como un gran puente simbólico. O con una serie de pinceladas, de gestos que borran violentamente la línea del horizonte: una ola encrespada que sube hasta el cielo o, a la inversa, una nube que descarga una lluvia furiosa. A veces la unidad total se consigue, paradójicamente, con una perfecta estabilidad, mostrando cielo y mar como dos aspectos paralelos de la misma sustancia, como dos mitades iguales del espacio vacío.