Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 28 de outubro de 2017

Com Atlântico e Douro por companhia…


Há já alguns meses que a minha dentista me tratou um dente que, em certas circunstâncias, continua a doer-me. Como não conseguia detetar o problema sugeriu-me que fosse a um dentista em Espinho, por este possuir aparelhagem muito avançada. Fui lá hoje e de fato detetou algo. Já tenho um CD com o exame que levarei à dentista na próxima consulta. 
Isto para referir que hoje fui a Espinho. O meu transporte favorito é o comboio e como cada vez gosto menos de conduzir, levantei-me cedo e apanhei o autocarro 206 (que passe perto de minha casa) e vai para Campanhã. Ali apanhei um comboio para Espinho. Sentei-me do lado da costa pelo que pude ir contemplando primeiro o rio e depois o mar. Cheguei a Espinho ainda não eram 9h. A consulta era às 10 pelo que fui caminhando lentamente, cerca de 800m, da estação até ao consultório, cuja localização tinha identificado no Google Maps.
No caminho fotografei o Centro Multimeios de Espinho



Chegada ao consultório, tive sorte. Estava aberto. Habitualmente só abre às 10h. Enquanto aguardava a consulta, na parede em frente estava projetado um arco-íris belíssimo.


Após a consulta e, quando retomei o caminho de regresso, o mar ali tão perto tentou-me e, em vez de ir diretamente para a estação, fui até à beira-mar. Vi várias pessoas caminhando, correndo, e perguntei se havia algum passadiço que me levasse até à Praia da Granja. Disseram-me que sim mas que eram cerca de 4 km pelo que nunca demoraria menos de 1h.
Como adoro caminhar, não hesitei. Demorei 45 min mas valeu a pena….
Deixo algumas fotos que tirei durante a caminhada





Ao chegar, dirigi-me para a estação, bastante abandonada, embora na foto não se note muito.

Enquanto aguardava o comboio, lembrei-me de Sophia que, na Granja, escreveu alguns dos seus poemas, nomeadamente um em que evoca a casa onde passava férias

Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.
A ti eu voltarei após o incerto
Calor de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados os fantasmas, percorridos
Os murmúrios da terra indefinida.
Em ti renascerei num mundo meu
E a redenção virá nas tuas linhas
Onde nenhuma coisa se perdeu
Do milagre das coisas que eram minhas.

A casa pode ser vista num breve documentário  aqui
http://portocanal.sapo.pt/noticia/30717/

Com os olhos ainda "inundados" de mar, entrei no comboio apinhado de gente, na sua maioria jovens. Entre tantos, apenas um (neste caso,uma) me ofereceu o lugar. Agradeci e elogiei o seu gesto mas não aceitei porque não precisava. Provavelmente não seria esse o caso de muitos outros idosos que ali viajavam de pé.
Na minha mente começou a emergir um "soneto", glosando o grande Camilo no seu belíssimo poema "Os amigos" que tantas vezes ouvi dizer ao meu pai.

Granja. No ar, o cheiro a maresia
O comboio repleto. Jovens sentados,
(nem um só lugar vago existia),
nada mais viam, ao celular ligados.

Não sentiam o cheiro a maresia.
Não olhavam o mar ali ao lado.
No seu mundo virtual não existiam
vários idosos, em pé com ar cansado.

Só uma, entre tantos reparou
e o lugar de imediato ofereceu,
gesto hoje raro, excecional.

Impávidos, os demais continuaram
sem olharem mar , dunas ou céu,
concentrados apenas no mundo virtual.


E agora o belíssimo poema de Camilo. Estou em crer que me  desculparia  pela glosa...

OS AMIGOS

Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!

Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.

Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!


Regresso à glosa...Há algo que falha na educação da nossa juventude. De “quem” é a responsabilidade? Da família? Da escola? Da sociedade em geral?
E lembrei-me da comunicação de Nuccio Ordine sobre esta sociedade em que importa o ter e não o ser. E a propósito dessa comunicação, para além de poder ser lida on-line como já referi em mensagem anterior, também pode agora ser ouvida aqui     https://ffms.pt/conferencias/detalhe/2324/a-utilidade-dos-saberes-inuteis


Retomo  a viagem. Só em General Torres ficou vago um lugar perto de mim. Sentei-me e ainda tirei mais algumas fotos de dentro do comboio.





Saí em S. Bento, por volta do meio dia. Aproveitei para ir à FNAC em Sta Catarina, porque a prenda de aniversário do meu filho mais novo (e família) foi um voucher para uma “Fugas a dois”.
Achei a ideia muito gira mas o meu marido está cada vez com menos vontade de viajar no país. Excetuam-se as viagens ao Nordeste ( e até mesmo essas já são muito menos frequentes). Acabei por ir trocar o voucher. Ia trocar por livros mas, imagine-se, troquei por uma carteira. Já há muito que andava para comprar uma em tom cinza esverdeado pois a que tenho, e de que gosto muito, já está a precisar de substituição. Não fazia a mínima ideia de que na FNAC se vendiam carteiras, mas ao vê-la não hesitei. E o mais interessante é que o seu preço foi precisamente o do voucher... ...

Regressei a casa a pé. 
Depois de almoço chegaram os meus netos. Hoje, greve nas escolas, valeu-nos a empregada que vai à sexta-feira, pois causar-me-ia muito transtorno ter que adiar a consulta. Até isso correu bem.
Soube-me bem o dia...

E porque falei de mar e rio cito Heitor Villa Lobos

Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil.(...)Dele a Canção das água claras que podem ouvir aqui    https://www.youtube.com/watch?v=GzQ4VlPib0k



Deixo também a canção O Mar de Dorival Caymni          https://www.youtube.com/watch?v=WdrytEpMnw8


Além de músico Dorival Caymni   também  pintava. Deixo um quadro sobre o mar




E porque também tive por companhia o Douro, deixo um quadro de Abreu Pessegueitro, pintor de que gosto muito









segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Entre Tejo e Sado...

No dia 19 estive em Lisboa, na Torre do Tombo, onde teve lugar uma reflexão sobre A UTILIDADE DOS SABERES INÚTEIS, integrada no MÊS DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA, iniciativa da Fundação Francisco Manuel dos Santos que, iniciada a 19 DE   OUTUBRO,  terminará a 20 NOVEMBRO

Parti dia 18 em direção a Setúbal, no Alfa das 9, 43 min. Tinha comprado bilhete até Pinhal Novo mas como tinha que esperar 2h na Gare do Oriente pelo Intercidades, apanhei ali uma camioneta direta e cheguei a Setúbal. Aproveitei para estar algum tempo com a minha amiga de infância, Lourdes Sendas, artista plástica a quem já me referi em outras mensagens.

Durante a viagem de camioneta fui tirando umas fotos porque o céu estava fabuloso. Não ficaram famosas pois foram tiradas dentro do autocarro em movimento.
 




Cheguei por volta das 15, 30 pelo que ainda deu para almoçarmos juntas. Depois de almoço fomos passear na orla costeira da cidade, o que é sempre muito agradável.


No dia seguinte fomos para Lisboa logo pela manhã. Fomos visitar o MAAT que eu ainda não conhecia.






 Almoçámos na Versailles da Rua da Junqueira. Famosa pela sua pastelaria, a Versailles, que de há muito tem a sua “sede” na Avenida da República, foi fundada em 1922, Decorada ao estilo Art Nouveau mantém um ambiente de um verdadeiro clássico café europeu. Hoje para além da pastelaria, tem uma diversidade de oferta de qualidade e surge em outros espaços nomeadamente na Rua da Junqueira.




Na Avenida da República, em Lisboa, a Versailles sopra 95 velas em novembro, mas este ano as comemorações começaram mais cedo. Mais precisamente a 25 de janeiro, data em que abriu a nova pastelaria do grupo, em Belém, Grande Lisboa.(...). começou a ganhar contornos em maio, quando encontrámos este espaço», conta Nuno Paiva, um dos responsáveis da nova Pastelaria Versailles, a par de Bruno Costa. O espaço de que fala fica num edifício antigo, centenário, ocupando duas divisões, na esquina entre a Rua da Junqueira e a Calçada da Ajuda. Nesta última abrirá o restaurante da Versailles nos próximos meses, mas por enquanto já está em funcionamento a parte da confeitaria na rua da Junqueira.
Lá encontram-se alguns dos clássicos da casa, confecionados no próprio local, como os duchesses ou éclairs de baunilha e chocolate, os indianos ou os pastéis de nata, e outros mais recentes. Caso do bolo Versailles (de chocolate, que se assemelha a um petit gateaux), os semi-frios de morango ou framboesa e os petit fours, sortidos com uma pasta de amêndoa.
De resto, é contemplar a decoração, que não sendo exatamente uma réplica da original, se quer assemelhar o mais possível à primeira Versailles. Por esse motivo, irão juntar-se ao já existente mobiliário de carvalho alguns apontamentos nos próximos meses. «Quero muito ter o relógio antigo e os vitrais, como na Versailles da Avenida da República», conclui Nuno Paiva.
Comemos muito bem e  provámos o  bolo Versailles  que é delicioso....Depois de almoço fomos de autocarro para a Torre do Tombo, o que permitiu ir apreciando a cidade.

Chegada à Torre do Tombo que  não conhecia. A conferência foi no auditório, cuja entrada é ao lado.

A intervenção de Nuccio Ordine (https://pt.wikipedia.org/wiki/Nuccio_Ordine) prendeu de tal modo, que apesar de ter ultrapassado muito o tempo previsto, ninguém arredou pé. Após a sua intervenção seguiu-se a minha bem mais modesta, obviamente. Seguiu-se um debate também muito interessante. Prevista para terminar às 19h, já passava muito das 20 h quando terminou e teria prosseguido não fosse já tão tardia a hora.
A todos os presentes foi oferecido o livro de resumos que também já está disponível on-line

De seguida fomos jantar. Foi muito agradável pois Ordine é um comunicador excelente em qualquer circunstância. No jantar estiveram também elementos da Fundação Francisco Manuel dos Santos e o Professor Carlos Fiolhais, outro grande comunicador que tinha que regressar a Coimbra, tal como eu tinha que regressar a Setúbal. Tivemos que sair antes do fim...No dia seguinte (sexta feira) regressei ao Porto no ALFA que “apanhei” em Pinhal Novo às 9,23. Já almocei no Porto. Após o almoço surgiram o meu neto José e um amiguinho, que vieram estudar cá para casa,
Ao fim do dia fomos à Escola Irene Lisboa (que pertence ao Agrupamento Carolina Michaëlis) pois o José ia receber um diploma por ter sido incluído nos quadros de valor





A  terminar deixo um dos vários  vídeos com intervenções de Nuccio Ordine, que podem ver na NET
https://www.youtube.com/watch?v=KAj-FZUS2lE


.

domingo, 15 de outubro de 2017

Falando de aniversários….


DIA DE ANOS 

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois que se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!

Também eu caí mais uma vez na asneira. Desta vez ao sábado…..Reunimos com filhos, noras e netos mas reunir-nos-íamos da mesma maneira sem aniversário pois, em princípio, estamos sempre juntos numa das refeições ao fim de semana.
Recebi essencialmente livros pois é uma das melhores prendas que me podem dar. Um deles foi uma coletânea de poemas de Almada Negreiros
Ao deitar li alguns textos e um deles, bem como a ilustração que o acompanha,  chamaram-me particularmente a atenção.

 



Há quinze dias fui a Trás-os Montes. Não sei se na ida, se na vinda, acompanhei na antena 2 um programa muito interessante sobre o Infante D. Pedro, o 2º de uma série de programas com o historiador Alfredo Pinheiro Marques e que, tal como os demais, pode ser ouvido aqui http://antena2quinta.radio.pt/
O que ressalta desse programas é a imensa cultura do Infante  e o seu protagonismo, um pouco ignorado nos Descobrimentos .

Ainda a propósito de aniversários não podia deixar de referir Álvaro de Campos


ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos

E porque nesta mensagem refiro Almada Negreiros e Fernando Pessoa deixo os dois retratos do Poeta, da autoria de Almada


Termino com o quadro Aniversário de Chagall




quinta-feira, 5 de outubro de 2017

MÊS DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA, 2017

A Fundação Francisco Manuel dos Santos promove mais um ciclo de conferências . 

 Desta feita, o MÊS DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA, de 19 de   OUTUBRO A 20 NOVEMBRO 2017 

 O programa pode ser visto aqui https://ffms.pt/conferencias/ciclo/2325/mes-da-educacao-e-da-ciencia-2017


onde também pode ler-se:

Pela primeira vez, a Fundação junta os temas da Educação e da Ciência num mês mais ambicioso, num programa de norte a sul do país, com especialistas nacionais e internacionais:
- Nuccio Ordine, filósofo italiano, traz-nos uma reflexão sobre a utilidade dos saberes inúteis e a importância do ensino das Humanidades na formação dos alunos.
- A progressão positiva dos resultados dos alunos portugueses no teste PISA, em Matemática, Ciências e Leitura e a comparação dos sistemas de exames em vários países estão também em discussão.
- E avaliados os conhecimentos dos alunos, estudar compensará? Ter um curso superior é ainda sinónimo de benefícios económicos e não económicos? A Fundação apresenta um estudo inédito sobre os benefícios do Ensino Superior.
- Sarah-Jayne Blakemore desvenda os mistérios do cérebro adolescente, fazendo a ponte entre as neurociências e a sua aplicação na educação.
- Sir Martin Rees fala sobre o papel da Ciência no século XXI e que relação devem os cidadãos ter com a Ciências e a tecnologia. Outros temas de Ciência incluem um debate sobre o estado da Ciência em Portugal – quem a faz e em que condições?
A fechar o mês, a diáspora científica fica em evidência: quem são os investigadores portugueses espalhados pelo mundo? Junte-se ao debate que interessa a professores, a investigadores, a todos os interessados em conhecer e em melhorar o sistema educativo, praticantes e beneficiários da Ciência e Tecnologia em Portugal e, em geral, todos os interessados pelo ensino e pela cultura científica.
Entrada livre mediante pré-inscrição

Estava eu “posta em sossego” em Trás- os -Montes quando, a 3 de agosto, recebi um convite para participar na sessão do dia 19 “ A utilidade dos saberes inúteis” que terá lugar em Lisboa, às 17h, 30 min, na Torre do Tombo, em Lisboa
https://ffms.pt/conferencias/detalhe/2324/a-utilidade-dos-saberes-inuteis,  abordando o valor das humanidades no ensino das ciências
Achei o desafio muito interessante mas seria preciso apresentar um resumo até ao fim de Agosto o que para mim seria difícil.. Como referi essa dificuldade, deram-me mais alguns dias. A partir daí fui dedicando diariamente algum tempo para a preparação, com a necessária pesquisa, que ali só poderia fazer recorrendo essencialmente à NET . Embora disponha de duas pequenas bibliotecas (heranças da minha família e da do meu marido) só me puderam ser úteis nalguma pesquisa sobre poesia ( Camões, Antero..)
Consegui escrever o resumo e enviá-lo a 5 de setembro, dia em que regressei ao Porto. A partir daí, dispondo já de mais recursos, tenho trabalhado um pouco na preparação da apresentação. Mas o ponto forte será, com certeza, a intervenção de Nuccio Ordine, filósofo italiano, professor na Università Della Calabria, autor de A utilidade do inútil . Manifesto .

Nas pesquisas que fiz on-line, para a preparação do resumo, encontrei uma entrevista que pode ser lida aqui

É preciso olhar o mundo em que vivemos, onde a lógica do dinheiro domina tudo. A única coisa que não pode ser comprada é o saber. Não é possível tornar-se um homem culto com um cheque em branco. Criámos um mundo onde as pessoas pensam apenas no seu próprio egoísmo. Perdeu-se de vista o sentido da solidariedade humana(…)
Os saberes, como a música, a literatura, a filosofia, a arte, ensinam-nos a importância da gratuitidade. Devemos fazer coisas que não buscam o lucro. A dignidade humana não é a conta que temos no banco. A dignidade humana é a nossa capacidade de abraçar os grandes valores, a solidariedade, o amor pela justiça, o bem-estar(...)  

E porque falamos de cultura, tenho boas notícias relativas ao Castro da Marruça

O Castro da Marruça é um castro que existe na minha aldeia, conhecido impropriamente por castelo da Marruça. É um local com vistas belíssimas sobre o rio Sabor e as encostas que o ladeiam.
Dediquei-lhe já vários poemas e um dos contos do meu livro Terras de Cieiro.

Outrora seriam por certo diferentes o achatamento polar,
o campo magnético, a atração lunar
e, como tal, o peso das coisas, as marés.
Diferença subtil, irrelevante,
pois se esse tempo, à escala humana é já distante,
à escala do Universo ainda é presente.
Outrora seriam por certo diferentes
as gentes que no castro habitavam
mas como hoje, sofriam, amavam
e guerreavam em sangrentas batalhas,
deixando virgens, talvez para sempre, tímidas donzelas.
Testemunhas desse tempo, as muralhas,
naturais do lado do abismo, do outro lado humana construção,
como também humana a destruição que de onde em onde grassa.
Ignorou-se que enquanto o tempo passa,
as pedras guardam na memória os feitos da história,
o sangue derramado, a glória, o revés.
Em terras que com sangue foram adubadas,
florescem hoje papoilas encarnadas
por entre alvas estevas, roxas arçãs e giestas amarelas.
Na Primavera, todas elas salpicam a ladeira do castro até ao rio.
Deste, quem sabe, o rumor será ainda eco dum clamor, outrora lançado no vazio.

Quando escrevi este poema, a destruição que refiro era apenas pontual. Mas um belo dia, um agricultor da aldeia resolveu solicitar os serviços da Câmara para derrubar a maior parte da muralha, porque esta o impedia de ir buscar lenha no interior do castro. E um funcionário da Câmara foi e derrubou ...gratuitamente, pois os referidos serviços podiam (não sei se ainda podem) ser requisitados pelos agricultores para certas obras, por exemplo obras que permitam um melhor acesso a propriedades…
Sempre que ia à aldeia, gostava de ir ao castro ver a paisagem que dali se avista.


Não sei se fui das primeiras pessoas a ver os estragos. … Cheguei e ao ver aquele descalabro, não consegui evitar as lágrimas ...De imediato liguei para um dos elementos da Junta de Freguesia que me respondeu mais ou menos isto: Sei que a máquina da Câmara andou para esses lados mas não sei bem o que aconteceu. Vou tentar informar-me
Liguei para a Câmara mas a resposta foi igualmente evasiva. No dia seguinte, o membro da Junta ligou identificando a pessoa que tinha encomendado o serviço e que achou que não havia mal nenhum pois era apenas um monte de pedras . E o funcionário da Câmara  pensou o mesmo...

Já lá vão uns anos, desde que isso aconteceu. Mas no passado dia 23 de Setembro, por iniciativa da Câmara Municipal houve uma visita guiada ao local que já está a ser sujeito a intervenção. 


Não pude estar presente mas fui lá no passado fim de semana e tirei  fotos. O local já foi desmatado; seguir-se-á a intervenção de arqueólogos no sentido de fazerem escavações que possam conduzir a vestígios clarificadores quanto ao que ali existiu. Esperemos que a obra avance.
Deixo fotos, algumas minhas, outras gentilmente cedidas pelo meu amigo F. José Lopes, historiador.

Antes da desmatação

Depois da desmastação









Nesta última foto podemos ver a espessura da muralha precisamente onde foi derrubada