Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


terça-feira, 20 de junho de 2017

Por entre tempestades e bonanças…..


Sexta feira, 16 de Junho
Sempre que me sinto um pouco deprimida ( felizmente sucede-me poucas vezes) penso que não tenho muito a reclamar da vida, especialmente quando penso nos problemas terrivelmente dramáticos com que muitas pessoas se confrontam. Mas nem sempre resulta e por vezes sinto-me em baixo. Um dos primeiros sintomas é ter insónias, algo que me acontece raríssimas vezes.
O falecimento do meu irmão não nos apanhou de surpresa. Há um ano fui ao Brasil visitá-lo por se recear que o fim estivesse próximo.
Um médico, amigo da família que acompanhava a situação, disse-me: O seu irmão é um lutador e  tem uma vontade enorme de viver.. Poderá durar um mês,três meses, seis meses, talvez um ano. Para além disso é pouco provável.
Nos últimos tempos sofria bastante embora tentasse disfarçar. A morte veio por fim a tanto sofrimento e é nessa realidade que todos nos tentamos apoiar. Do tempo que passei com ele da última vez, recordo essencialmente o carinho, o bom humor, a vontade de viver.





E sinto um nó na garganta, e tenho dificuldade em dormir….

Para tornar tudo ainda mais difícil, o nosso gato, com 11 anos,  desapareceu na segunda feira. Na quarta feira o meu marido foi encontrá-lo morto num terreno baldio por detrás do nosso quintal. Não sabemos o que terá acontecido.


Se para mim foi triste, para o meu marido, que cuidava dele, foi muito duro. Consegui convencê-lo a vir passar o fim de semana à aldeia. E aqui estamos, mas em maré de azar. Uma qualquer avaria na instalação elétrica, deixou-nos sem ar condicionado ( a temperatura ronda os 44 º) e sem televisão (para o meu marido é algo indispensável...a mim faz-me pouca falta embora tivesse previsto ver uns mini filmes do Hitchcock na RTP memória )
Ninguém mais na aldeia tinha tido problemas. Como temos sistema trifásico, começámos por admitir que grande parte das pessoas teria ainda o monofásico pelo que poderiam não ter sido afetadas pelo problema.
Ligámos para o serviço de avarias da EDP, em Moncorvo mas fomos “atendidos” por uma gravação que logo de início nos pediu o número da última fatura. Acontece que as faturas vão para o Porto pelo que não temos aqui nenhuma.
Aqui a rede tem muito pouco sinal pelo que não pudemos recorrer à Internet em busca de outras soluções

Decidi então tentar “pôr a minha escrita em dia”.
Desde a penúltima “postagem”a 21 de Maio, aconteceram também coisas agradáveis….

Estava a acabar de escrever o parágrafo anterior quando o meu marido entra na sala e diz:
O problema é mesmo aqui em casa. Um disjuntor do quadro queimou. Amanhã vou tentar resolver o problema em Moncorvo.

Mas a falta de ar condicionado e de televisão não o deixaram ficar quieto. É uma pessoa extremamente “engenhocas” pelo que arranjou uma solução provisória que não resisti à tentação de a fotografar.

E não perdi o Hitchcoch….
Ao fotografar a “engenhoca” apercebi-me que tinha algumas fotos e  filmes desde finais de Maio, que ainda não tinha visto.
No dia 24 fomos mostrar aos meus sobrinhos Valença do Minho e o centro histórico de Tuy (não tenho imagens pois foram os meus sobrinhos que tiraram as fotos e ainda mas  não enviaram).
No dia 31, regressaram ao Brasil.
No dia 1 e Junho, o meu neto Bernardo fez oito anos mas a festa de aniversário teve lugar no dia 3
Como é habitual, a festa foi em casa ( ao lado da minha) e todos os colegas da turma estiveram presentes. À tarde fiz para eles uma sessão de magia (entenda-se de Física e Química). O jantar era destinado à família e amigos mais íntimos. Mas nessa noite havia o espetáculo do grupo de teatro do Carolina Michaëlis de que o José faz parte. A peça foi a menina Feia de Manuel António Frederico Pressler

Aqui ficam uma breve sinopse da peça. Fiz um pequeno vídeo mas não consigo colocá-lo  aqui. Deixo apnas uma imagem do final, mas ficou muito desfocada



Sinopse 

Uma jovem procura emprego na empresa do homem por quem está apaixonada, no entanto, este, por considerá-la feia, recusa prestar-lhe atenção. 
Uma transformação, ao estilo dos contos de fadas, vai fazer com que ele finalmente repare na ‘menina feia’…

Após o teatro ainda fomos comer uma fatia de bolo do aniversário do Bernardo mas não pudemos ficar muito tempo pois, no dia seguinte, o meu filho Nuno e eu tínhamos que apanhar o Intercidades das 8,52 para Lisboa. O filho da minha amiga que reside em Setúbal, tem um apartamento em Lisboa a precisar de obras e quiseram ouvir a opinião do Nuno. Aproveitei a sua companhia e fui visitar uma prima minha cujo marido faleceu há relativamente pouco tempo. Um dos filhos foi buscar-me à estação do Oriente e fomos todos almoçar. Todos significa a minha prima, os três filhos, as noras, vários netos, namoradas de netos...Foi um convívio muito agradável.
Ao fim do dia o meu filho regressou ao Porto e eu fui para Setúbal com a minha amiga, que é licenciada em pintura. Logo ao entrar na sala deparei com novos quadros.
Gostei particularmente de um deles, cuja imagem aqui deixo, com a devida autorização da autora.


A minha amiga não se sentia bem já há alguns dias. Nessa noite piorou e logo de manhã fomos à urgência do Hospital da Luz. Foi medicada e eu regressei ao Porto um pouco apreensiva,  mas tinha que regressar pois no dia seguinte chegariam ao Porto o meu sobrinho Ricardo (um dos filhos do meu irmão) a mulher e um casal amigo que vive em Munique. Os meus sobrinhos são sempre extremamente gentis e a nossa relação com o casal amigo, foi de um imensa empatia. Infelizmente a estadia foi ensombrada pela morte do meu irmão.

Relativamente à minha amiga, felizmente a medicação fez efeito e melhorou.

No dia 10, a minha neta Marta, que começou a praticar escutismo há uns meses, ia ser admitida nos escuteiros já como Lobita. Quis que eu fosse a madrinha. A cerimónia, embora longa, foi interessante com alguns rituais que eu desconhecia.





No dia 14 o José surpreendeu-nos com um convite para uma nova atividade de teatro que iria ter lugar no dia 15, às 19 h na escola. A professora de História, com as duas turmas de 6º ano que lecionava,organizou um espetáculo de participação voluntária,em que foram apresentadas várias personagens da História de Portugal desde a fundação até aos nossos dias. Na turma do José inscreveram-se algumas meninas e ele foi o único rapaz a inscrever-se. Na outra turma houve vários rapazes participantes. Foi muito interessante e mais uma vez eu refiro que admiro os professores de hoje, que sufocados em burocracia, ainda arranjam tempo para dar um sentido mais lato à escola. Bem hajam


Sábado 17 de Junho
Logo de manhã o meu marido foi a Moncorvo, tentar comprar um novo disjuntor. No caminho apercebeu-se de que já devia ter levado à inspeção o jipe que temos aqui.
A loja de artigos elétricos estava fechada. Mas de imediato umas pessoas se dispuseram a procurar o filho do dono da loja. Este veio, abriu a loja e atendeu o meu marido com uma gentileza extrema.
Como comentasse o problema da inspeção do carro o senhor sugeriu-lhe que fosse ao Larinho fazê-la. Habitualmente era feita em Macedo de Cavaleiros, mais perto da minha aldeia, e por vezes tinha que esperar muito tempo. No Larinho, junto a Moncorvo, foi imediato.
Quando entrou em casa tinha perdido o ar sorumbático que o acompanhou nos últimos dias….

No dia seguinte, às 6 h a manhã chegaria um senhor para tirar as ervas do quintal e às 10h estava prevista a chegada nossa empregada(digo nossa porque trabalha para mim e para os meus filhos) ida do Porto com uma irmã, o marido e o cunhado.


Domingo 18 de Junho
Desde que o meu marido herdou a casa do irmão eu  queria arranjar alguém, que me fizesse uma limpeza muito profunda na casa. As aldeias do nordeste estão despovoadas pelo que não é fácil. Mas lá fui conseguindo pessoas, já de uma certa idade. Trabalhando eu e elas, lá fomos dando um jeito. Mas a tal limpeza profunda, nunca tinha sido feita. Eu tenho o privilégio de ter uma empregada excecional. Disponibilizou-se a cá vir, juntamente com  uma irmã gémea que também é empregada doméstica, O marido desta senhora, o Sr. Júlio, trabalha na construção civil. Conheci-o quando da construção da minha casa no Porto. Foi através dele que eu cheguei à cunhada ( a mulher não tinha horas vagas e a cunhada tinha deixado uma senhora naquela altura). Para arranjar mais algum dinheiro que lhes permite, por exemplo,  fazer férias no Algarve, o Sr. Júlio aos fins de semana ajuda a mulher nas limpezas.
Ou seja, eu tive um trio de trabalhadores excecionais a que o marido da minha empregada também foi dando uma ajuda, para além de ter sido o motorista...Para além disso e sabendo que eu tenho andado bastante em baixo, trouxeram o almoço que incluiu um bolo de noz muito saboroso.
A casa ficou um brinquinho....
A ensombrar o dia, a terrível tragédia que se abateu sobre  o país.

Sei que esta mensagem é muito longa mas com o pouco tempo de que geralmente disponho, sempre que posso, tento pôr “a escrita em dia”.


quinta-feira, 8 de junho de 2017

Não é nunca esse momento.....

Lá longe, nesse Brasil distante, faleceu hoje o meu irmão. Um dos filhos tinha chegado ontem a minha casa, acompanhado da mulher. Tentamos consolar-nos mutuamente mas, por mais que nos preparemos para estes momentos difíceis, nunca estamos preparados.
Eles saíram há pouco com o tio. Eu fiquei, porque em breve chegará o José da escola. 
Tento encontrar algum conforto na poesia e na música

Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento 


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas


Com os Mortos


Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos...

E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem. 


Antero de Quental, in "Sonetos"