Regressei anteontem do meu nordeste, onde fui passar o fim de
semana. Já lá não ia desde a Páscoa O tempo, uma das causas que foi impedindo anteriores
idas programadas, estava fabuloso
Fui ver o Sabor, mais uma vez. A albufeira da barragem já
está a encher mas, da minha aldeia, ainda
se identifica bem o antigo leito.
O Santuário de Antão da
Barca, já “partiu”, deixando
o lugar vago para o mar de água que, em breve, ali se quedará. Altaneiro, vê-la-á de longe e sentirá saudades
da água que ali corria, por vezes buliçosa.
Entre
calhaus e areias, grossas, finas,
virgens
porque há muito não pisadas,
e
mescladas de vegetação rasteira,
resistem
ao tempo, no fundo da ladeira,
umas
ruínas de um açude, um canal e um moinho,
cuja cobertura se perdeu
como todos os anos se perdia quando o rio,
nas
enchentes, lúbrico crescia.
Ainda
hoje o rio umas vezes adormece
outras
galopa na viagem.
Do
moinho que agoniza junto à margem
resta,
corroída, uma mó que em tempos
transformava
grão em pó.
Restam
também vestígios de uma antiga construção
e, numa fraga,
escavada uma pequena cova,
talvez a gamela de um cão. Quiçá um perdigueiro,
companhia
de caça do moleiro.
(In Gouveia, R., Magnetismo terrestre, 2006)
(…) Ó banzas dos rios , gemendo descantes
(…) António Nobre
Jovial, fagueiro, por vezes
arrebatado, violento,
assim corria o rio, outrora, em
sobressalto ou lento.
Barítono, tenor, baixo, soprano,
contralto,
cantava árias de amor e de paixão.
Aprisionaram-no. Tentou lutar.
Foi impotente perante a muralha de
betão.
Parado, triste, agora já não canta.
Tem um nó na garganta.
(In Gouveia, R., entre margens, 2013)
O novo espaço está com ar
“simpático”. A capela já foi trasladada mas no interior ainda há muito a fazer.
Ontem, quando regressava ao Porto, como sempre com a Antena
2 ligada, ouvi algumas obras muito interessantes. Dou conta de duas.