Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Falando de escolas e de educação...

Anteontem, dia 31, estive mais uma vez na Escola Básica S. Lourenço, em Ermesinde, a convite da Professora Bibliotecária. Os alunos de 8º ano ( 7 turmas com cerca de 30 alunos) têm vindo a desenvolver, desde o início do ano, um projeto dinamizado pelos professores de Língua Portuguesa e Física e Química, centrado no livro Breve História da Química que escrevi em 2011, no âmbito do Ano Internacional da Química, e  cuja edição foi patrocinada pela SPQ.


Estive com as 7 turmas distribuídas por três sessões (45 min cada), duas de manhã e uma à tarde. Em cada sessão fui surpreendida logo no início, por intervenções dos alunos. A 1ª, muito interessante, foi uma simulação de um telejornal em que o apresentador anunciava uma conversa com uma representante da escritora Regina Gouveia, conversa essa que girou à volta da obra, com apresentação das várias personagens,  e terminou com o pedido de uma visita da escritora à escola.
A 2ª, foi um  “sketch” em que alunos “vestidos” de saltimbancos, segurando tochas simuladas, anunciavam a minha presença e faziam a respetiva apresentação.

Lembro que a obra começa assim.
 Arauto
Venham ao largo da feira, chegaram os saltimbancos.
Se querem ficar sentados, tragam cadeiras ou bancos.

Entram os saltimbancos com uma  carroça,  archotes,  música. Fazem piruetas

A 3ª foi um PP com a minha apresentação e referências ao texto.

Mais uma vez, gostei muito de estar na Escola. Os professores são muito gentis e os alunos estiveram muito bem. Apenas na sessão da tarde  tive que chamar à atenção alguns alunos, após o que tudo correu lindamente.

À entrada e à saída vi, num “átrio” ,vários alunos empenhados em fazer e  colar cartazes para o Dia do Autismo, cartazes esses em que predominava a cor azul


Não sabia que 2 de Abril é o Dia do Autista  nem da importância do simbolismo da cor azul relacionada com a doença 
Vamos VESTIR AZUL no DIA 02 DE ABRIL... E QUEM SABE A SORTE DE MUITOS OUTROS E OUTRAS PODERÁ SER MUDADA... eu vesti azul e a minha sorte já mudou. Se o astronauta viu a Terra vestida de Azul, e se nos últimos dias de Lua Cheia, tão próxima de nós, os poetas e cantores puderam declamar e cantar em tom de "blues", se os artistas como Picasso, um dia, tiveram sua "fase azul", que tal reafirmarmos que O AUTISMO É AZUL. Mas isso só acontece e acontecerá: se nossos desejos de uma outra vida possível também forem intensificados em um devir azul como nosso planeta ainda em convulsão e tremores.... A TERRA É AZUL ... E O AUTISMO TAMBÉM! vamos cuidar, com muita suavidade, para que continuem assim.


Quando cheguei a casa liguei o computador, vim ao blogue e, como sempre, procurei nos favoritos se havia atualizações.
Em de Rerum Natura fui ler  o “post” "A Escola pública é um Inferno?"  e na sequência deste fui ler um  artigo de Alexandre Homem Cristo, que podem ler aqui . Deixo alguns excertos

O que se passa nas nossas escolas? Maria Filomena Mónica (MFM), num livro recentemente editado pela Fundação Francisco Soares dos Santos, responde. E a sua resposta não poderia ser mais incisiva: retratou um inferno, identificou factores para o insucesso e concluiu que a escola pública é má. Nada de surpreendente. Afinal, as conclusões a que chega não diferem das que tinha à partida, e que lhe conhecemos de outras intervenções públicas. Conclusões, aliás, alinhadas com as críticas habituais dos que desconfiam das escolas do Estado - a indisciplina reina, a exigência é baixa, os programas das disciplinas são todos péssimos e os miúdos não aprendem sequer o elementar.
Acontece que essas conclusões são muito discutíveis. Principalmente, por três razões. A primeira deriva da própria natureza da obra. Ao basear-se em relatos de uma dúzia de professoras e alunas, MFM sujeita-se a uma certa tentação pelo insólito, na medida em que só é digno de relato o que escapa à norma (i.e. o que não acontece normalmente). Construir generalizações a partir desses relatos é, por definição, abusivo. E apesar de não se tratar de um estudo científico, como aliás MFM tem referido nas suas entrevistas, não se pode deixar de realçar o óbvio: para além de um problema de representatividade da amostra, a obra sofre de um problema de fiabilidade.
(...)Ora, não é porque há escolas onde tudo corre mal que todo o sistema está comprometido. Tal como não é porque há escolas onde tudo corre bem que não há espaço para melhorias. Certezas, há uma. Só se promove a melhoria a partir de diagnósticos correctos. E apesar dos aspectos interessantes da obra, a base do diagnóstico de MFM não o está.

Não conheço o livro de Maria Filomena Mónica. Em tempos comprei um livro seu “Bilhete de Identidade” e confesso que esperava mais da autora das crónicas que por vezes vezes lia e continuo a ler.  A tal ponto me desiludiu que um dia, um amigo pediu-mo emprestado e eu dei-lho porque não tinha nenhum interesse especial em tê-lo na minha estante. Mas voltando ao livro que não conheço, procurei outras referências na NET e reproduzo  excertos de uma que podem ler aqui

socióloga Maria Filomena Mónica andou meses a procurar resposta para a pergunta "O que se passa dentro das nossas salas de aula?" e as respostas que obteve, a partir dos diários de duas professoras, quatro alunas e uma mãe, confirmaram os seus piores receios. "É uma escola criminosa, indigna, estúpida. ". E a culpa, aponta Maria Filomena Mónica é dos sucessivos ministros.

"Os pais que não se convençam que aquilo só se passa nas escolas públicas. Conheço miúdas das privadas que me fariam relatos igualzinhos ou piores", 

Sem soluções prontas a aplicar, Maria Filomena Mónica aconselha o ministro Nuno Crato a deixar de tratar os professores "como uns estafermos incapazes". "

 Por acreditar que os professores precisam de se sentir acarinhados "quer pelo poder, quer pela sociedade", a socióloga considera que o melhor que Nuno Crato podia fazer pela escola pública era deixar os professores em paz. "Deixá-los preparar lições, dar aulas e corrigir os exames dos alunos, em vez se os pôr a preencher relatórios que não servem para nada".

"Os culpados, segundo Maria Filomena Mónica, são todos os ministros que se sucederam na pasta depois de 1974”,porque “foram eles, e não os professores, que não souberam enfrentar o problema da massificação da escola; foram eles, e não os professores, quem elaborou os programas; e foram eles, e não os professores, quem levou as classes médias a retirarem os filhos do ensino público”.

Se em muitos aspectos  estou em total concordância, noutros discordo e confesso que não pude deixar de ficar arrepiada com a frase "É uma escola criminosa, indigna, estúpida. O que relatei no início mostra quão descabida é esta generalização.

Já por mais que uma vez me pronunciei no mesmo sentido que o excerto que segue:

Por acreditar que os professores precisam de se sentir acarinhados "quer pelo poder, quer pela sociedade", a socióloga considera que o melhor que Nuno Crato podia fazer pela escola pública era deixar os professores em paz. "Deixá-los preparar lições, dar aulas e corrigir os exames dos alunos, em vez se os pôr a preencher relatórios que não servem para nada".

Há muito mais a enumerar. Mas antes quero  deixar uma constatação.

Nos últimos anos tenho visitado dezenas de escolas, a maior  parte públicas, mas também algumas privadas. Do que tenho visto não deteto grandes diferenças e as que deteto têm a ver essencialmente com:
  • A diferença do número de alunos por turma ( genericamente maior no público que no privado),
  • O nível sócio-cultural dos alunos (genericamente melhor no privado ).

Mas vamos aos factos e cito apenas dois que, só por si, revelam problemas das escolas e dos professores.

1º facto
Sei de um  aluno do 1º ciclo, numa escola pública, cuja professora , ainda nova, sempre o caracterizou  como uma criança irrequieta (não no sentido de travessa, mas significando precisamente o ter dificuldade em estar quieta), desconcentrada, um pouco infantil, mas meiga e educada ( o que corresponde à realidade).
A forma que esta professora encontrou para atenuar a irrequietude foi retirar-lhe, por vezes durante semanas seguidas,  todos os intervalos (inclusive o de almoço) e obrigá-lo, sempre que podia gozar do intervalo, a falar e brincar apenas com meninas, ficando impedido de conversar com os colegas do sexo masculino
Não teve sucesso com nenhuma das práticas mas insistiu sempre até que o encarregado de educação, que várias vezes a abordou no sentido de repensar tais atuações,  optou por mudar a criança de escola. Para além disso , a segunda prática gerou um comportamento de delação por parte das meninas, sempre que o aluno falava com rapazes.
Face à infantilidade, uma das medidas que adotou foi colocar-lhe uma chupeta na boca, dentro da sala de aula, humilhando-o perante todos os colegas.
A professora tem tido muito sucesso com a  aprendizagem de conteúdos por parte dos alunos, incluindo o aluno em causa. Isso não faz dela uma boa professora. Esta professora precisava urgentemente de uma formação para evitar que continue a adotar práticas aberrantes  com os seus alunos. E provavelmente quem a “formou”precisaria também de formação..

Trata-se de uma escola pública mas conheço relatos de situações diferentes, mas tão graves quanto estas, que têm lugar em escolas privadas.

2º facto
Sei de professores que trabalham em mais que uma escola do mesmo Agrupamento, por vezes  distantes umas das outras, que lecionam várias disciplinas  em vários níveis, são diretores de turma, dão aulas de apoio. No caso de serem professores de áreas experimentais, têm que passar horas nos laboratórios a otimizar as atividades que irão ser levadas a cabo quer por si, quer pelos alunos.  Só quem foi professor nos ensinos básico e secundário tem consciência da tarefa ciclópica destes professores. Mas a tudo isto há que somar reuniões sobre reuniões, relatórios sobre relatórios, na esmagadora maioria das vezes, sem qualquer interesse.

Se houvesse uma vontade séria de  melhorar a qualidade da educação, far-se-iam investimentos na  formação e dar-se-iam condições de trabalho a quem trabalha. E por muito que o que sugiro possa parecer retrógrado, exercer-se-ia  uma "fiscalização" séria e isenta, relativamente às  práticas de escolas e professores,  para detetar necessidades (de formação e outras) e de seguida atuar em conformidade.

Mas as opções dos últimos ministérios tem sido  outras que  nada  têm a ver com a melhoria pretendida..
E os portugueses assistem, impotentes, à asfixia da escola pública  que durante muitos  e muitos anos foi o "baluarte "do  ensino de qualidade em Portugal .




7 comentários:

  1. Olá Regina
    Como esta constipação não me larga ando sem vontade de comentar os blogs, embora os leia..Mas gostei de verificar, aliás era de prever, que na sua
    opinião não é a Escola Pública a culpada dos
    atropelos à educação. É sim a má gestão dos desgovernos que afeta tanto as públicas como as privadas. Por outro lado sou uma defensora do ensino
    público, bem com da saúde. São direitos essenciais que não podem ser objeto de lucro..

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. Concordo plenamente consigo.
    Ab e votos de rápidas melhoras
    Regina

    ResponderEliminar
  3. Já escrevi bastante sobre este assunto e para mim, o erro principal é generalizar. Generalizar é que é "criminoso, indigno e estúpido" pois parte do princípio que é esse o retrato da maioria das escolas, o que é mentira.
    Conheci essa FM quando ela tinha uns 16 anos, era uma "menina bem " com montes de "pecebes" e "não sei quês", aluna das Doroteias que ficava por detrás do MªAmália, escola publica onde andei. As meninas das Doroteias ., que eram umas snobs, na sua maioria, vinham fazer exames na nossa escola e tinha notas muito inferiores às nossas!! Diziam mal de tudo só porque frequentavam o Colégio e usavam bata preta com cintos vermelhos. Fiquei sempre com um pó aos colégios de freiras, que nessa altura albergavam as meninas ricas que não conseguiam ter notas boas nos liceus.
    É essa FM que, depois de dar o grito de ipiranga e ter partido para Londres nos anos 70 ( como uma das minhas irmãs, que foi trabalhar como chambermaid num hotel), e de confessar que tudo o que aprendeu da Vida foi em Inglaterra ( sabe-se lá o quê!!! ), vem agora "arrotar postas de pescada" escrevendo sobre o ensino público que ela nunca frequentou, nem sequer visitou pois não era local a que valesse a pena dedicar o seu tempo.
    Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre.

    Quanto a ti, continua o teu plériplo pois a escola publica agradece e é assim que ela melhora.

    ResponderEliminar
  4. Virgínia: "Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre.Confesso que qualquer coisa escrita por essa senhora me cheira a preconceito e dos grandes. Quem a não conhecer que a compre."

    Como eu já tinha notado (por motivos errados) na cópia deste texto no De Rerum Natura, a Maria Filomena Mónica criticou tanto as escolas privadas como as públicas no seu livro, dizendo até que eram as escolas privadas as piores, por isso não vejo o "preconceito" (neste caso, contra as escolas públicas "de pobres") que notou.

    Aliás, quanto ao outro preconceito que notou (contra os próprios pobres), ela é crítica da direita e das classes altas justamente por causa dos seus preconceitos contra os pobres, sendo aliás de esquerda. (Note-se desde já que ela é socióloga; nunca ouviu dizer que não existe isso de sociólogo conservador? :) )

    Disse que a conheceu aos 16 anos, quando estava num liceu público e ela num colégio de freiras, e que ficou com a ideia de que ela e todas as alunas de colégios de freiras eram snobes. Bem, ela pode ter mudado bastante em Inglaterra, não acha? E, para quem que tudo o que vem da Maria Filomena Mónica é preconceito, você está a proferir um preconceito!

    ResponderEliminar
  5. Aceito a crítica....fui injusta talvez, mas já a ouvi muitas vezes e só confirmo as minhas expectativas. Conheço bem as meninas bem de Lisboa, pois vivi lá quase 30 anos. Também era de "boas famílias", mas nunca consegui "gramar" a sociedade pseudo-intelectual da capital. Agora que vivo no Porto, noto que há pessoas intelectualmente muito superiores e sem a snobeira da capital. Desculpe, mas é mesmo assim....não me alongo mais, porque este blogue não é meu e não quero entrar em picardias. Boa tarde!

    ResponderEliminar
  6. Um excerto do artigo do Publico, assinado por Paulo Guinote sobre o ataque de MFM às escolas públicas:

    Erro meu o de pensar que quem quer debater um tema o gostará de fazer com quem tem ideias ou posições diferentes. Já sou suficientemente crescido para não ser tão ingénuo.

    Vem isto a propósito da reacção de Maria Filomena Mónica (MFM) a algumas menções que fiz ao seu último livro em três singelos parágrafos de um artigo de opinião que escrevi e que se podem resumir da seguinte forma: MFM escreveu um livro sobre o quotidiano das salas de aula com uma sustentação empírica muito parcelar (confessar isso na introdução não elimina o facto), que as apresenta como um cenário de caos e que traça um retrato catastrófico das escolas públicas.

    Acrescentei que isso agradou a muitos docentes que se sentem desanimados e espezinhados, mas também a quem convém apresentar as escolas públicas como um cenário algo dantesco, a evitar. Por essa razão, considerei “perigoso” um retrato com apenas duas cores (vermelho e negro) que esquece o que de bom é feito nas salas de aula e escolas públicas deste país. Não fui além disto, não fiz insinuações sobre as motivações da autora – apenas alertei para alguns efeitos indesejados da sua caracterização redutora –, não fiz alusões curriculares, juízos de valor académicos ou políticos.

    Perante isso, MFM decidiu chamar a terreiro a sua artilharia adjectival, Eça e uma série de juízos de valor e carácter, incluindo suposições sobre algo que eu nunca escrevi.

    Donde se pode demonstrar que não sou só eu que tenho uma opinião bastante negativa sobre o modo radical como a senhora olha para a escola pública.
    Poderão ver o artigo completo aqui:

    http://www.publico.pt/sociedade/noticia/num-debate-prefiro-as-ideias-aos-adjectivos-1631438

    ResponderEliminar
  7. Virgínia
    Não tenho tido tempo de vir ao blogue mas já tinha lido o texto de Paulo Guinote: De qualquer forma agradeço-te pele sua referência aqui.
    Ab
    Regina

    ResponderEliminar