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Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sábado, 25 de agosto de 2012

Morreu Neil Armstrong

Morreu Neil Armstrong . O melhor  que encontrei para o homenagear foi  o Poema do Homem Novo de António Gedeão


Neil Armstrong pôs os pés na Lua


e a Humanidade saudou nele

o Homem Novo.

No calendário da História sublinhou-se

com espesso traço o memorável feito.



Tudo nele era novo.

Vestia quinze fatos sobrepostos.

Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,

um colante poroso de rede tricotada

para ventilação e temperatura próprias.

Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,

catorze, no total,

de película de nylon

e borracha sintética.

Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,

na cabeça e nos braços,

confusíssima trama de canais

para circulação dos fluidos necessários,

da água e do oxigénio.



A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,

um envólucro soprado de tela de alumínio.

Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,

auscultadores e microfones,

e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,

luvas com luz nos dedos.



Numa cama de rede, pendurada

da parede do módulo,

na majestade augusta do silêncio,

dormia o Homem Novo a caminho da Lua.

Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso,

bocas de espanto e olhos de humidade,

todos se interpelavam e falavam,

do Homem Novo,

do Homem Novo,

do Homem Novo.



Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.

Caminhava hesitante e cauteloso,

pé aqui,

pé ali,

as pernas afastadas,

os braços insuflados como balões pneumáticos,

o tronco debruçado sobre o solo.



Lá vai ele.

Lá vai o Homem Novo

medindo e calculando cada passo,

puxando pelo corpo como bloco emperrado.



Mais um passo.

Mais outro.

Num sobre-humano esforço

levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.

Com redobrado alento avança mais um passo,

e a Humanidade inteira,

com o coração pequeno e ressequido,

viu, com os olhos que a terra há-de comer,

o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,

exactamente como faria o Homem Velho.



António Gedeão, in 'Novos Poemas Póstumos'

Obrigada Neil Armstrong

4 comentários:

  1. Ainda há pouco tempo escrevi sobre ele no meu manual do 10º ano, é um homem que aprendi a admirar desde os meus 20 anos...

    Belo poema...para um grande Homem.

    bjo

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  2. O nome é Neil ( deficiência profissional):)))

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  3. Extraordinário poema! Como Gedeão sabia interprear bem os acontecimentos!!!!


    Um beijo, Regina!

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  4. De facto o nome é Neil mas no poema, Gedeão chamou-lhe Niels. Como incluí o poema mantive o nome. Devia ter feito um esclarecimento inicial.
    De qualquer modo, obrigada.
    Bj para as duas
    Regina

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