Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


domingo, 30 de janeiro de 2011

Magnetismo terrestre

O magnetismo terrestre e as formigas
Um estudo com pesquisadores brasileiros publicado no Journal of the Royal Society Interface pode ajudar a compreender um processo ainda misterioso: a influência do campo geomagnético da Terra sobre a orientação dos animais. A análise das antenas de uma espécie de formiga migratória revelou quantidades de partículas magnéticas que poderiam funcionar como sensores para detecção desse campo.


O campo geomagnético terrestre é semelhante ao gerado por um ímã cujos polos estariam próximos aos polos geográficos da Terra. Esse campo é detectado pelos animais e transformado em sinais neurais, que são levados para o cérebro pelo sistema nervoso. A informação magnética do grande “ímã” terrestre pode ser usada então para orientação espacial. Esse processo, chamado magnetorrecepção, tem sido bastante estudado em vários grupos de animais. Mas os mecanismos pelos quais o campo geomagnético é percebido e transmitido ao sistema nervoso ainda são desconhecidos.Os novos dados reforçam a hipótese de que essa sensibilidade ao campo se deve à presença de partículas magnéticas em estruturas conectadas ao sistema nervoso dos animais. A pesquisa é fruto do doutorado da física Jandira Oliveira no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e contou com a colaboração da Universidade Técnica de Munique (Alemanha).

Magnetismo terrestre é também o título de um livro meu de poesia, editado em 2006.


A propósito do título, o Professor Doutor Ferreira da Silva refere no prefácio

(...)O título desta colectânea de poemas repassados de saudades de um tempo e de um lugar (que afinal é um universo) é a transposição alegórica de uma temática científica da área da Física, o que não surpreende porque a autora, docente de Física e  Química pode, com a maior naturalidade, emoldurar o seu estro em referentes científicos ainda que metafóricos, como é o caso presente e foi também o caso das obras anteriores Reflexões e Interferências (...)

Do livro transcrevo o poema andorinhas





Andorinhas


Sentada no terraço,


vejo as andorinhas entrar e sair dos ninhos na casa do vizinho.


O vizinho morreu e a casa está abandonada,


mas as andorinhas, de luto, como é sempre o seu vestir,


talvez pelo vizinho, os que o antecederam e os que ainda hão-de vir,


continuam a voltear em torno dos ninhos na casa agora abandonada


do vizinho que morreu.


Sempre me lembro das andorinhas no beiral da casa do vizinho.


Sei que as de agora não são as mesmas que as de outrora


mas talvez de geração em geração, tal como passa o sentido de orientação,


tenha passado a informação


da minha existência no terraço em frente à casa do vizinho


desde quando o meu pai me dizia poesia que falava da sua migração.


Orientadas pelo campo magnético terrestre, pelo sol, pelas estrelas


ou simplesmente navegando à vista, aí vão elas seguindo uma pista


que as trará de volta novamente, quando se iniciar o tempo quente


Só que um dia já não haverá casa do vizinho,


nem eu estarei no terraço a recebê-las.

Regina Gouveia in Magnetismo terrestre

A propósito de magnetismo poderão ver o vídeo

Associamos geralmente o magnetismo terrestre à orientação pela bússola. Mas o seu papel é fundamental na protecção da terra relativamente a radições.
Com o magnetismo terrestre  estão também relacionados as auroras boreais de que insiro duas imagens

 

Marcelo Gleiser, físico, professor, ecritor,  autor de A DANÇA DO MAGNETISMO TERRESTRE  refere:
Os pólos magnéticos da Terra passam por inversões: de vez em quando, o que é norte vira sul, e vice-versa



Em suas notas autobiográficas, Einstein conta como ele ganhou


uma bússola de presente de seu pai quando tinha cinco anos:


"Ainda me lembro ou acredito que me lembro que essa experiência


causou um profundo efeito sobre mim. Algo de fundamental tinha de


estar escondido por trás das coisas". A bússola de Einstein, como


qualquer outra, apontava para o norte, independentemente de onde


estivesse: o metal da agulha tende a se alinhar com o campo


magnético da Terra, que corre na direção norte-sul. Essa


observação, tão óbvia quanto a volta do Sol a cada dia, que


marinheiros e pássaros usam para se orientar em suas viagens,


não tem nada de trivial.


O fato de a Terra ser um gigantesco ímã se deve a uma confluência


de fatores, que só agora começam a ser entendidos. Dentre as


descobertas relativamente recentes, a mais chocante é a de que os


pólos magnéticos da Terra _quase alinhados com seus pólos


geográficos (daí a utilidade da bússola)_ passam por inversões: de


vez em quando, o que é norte vira sul, e vice-versa. A questão é


quando será a próxima.


A última inversão de polaridade ocorreu há 780 mil anos, bem mais


tempo do que a média de 250 mil anos. Por alguma razão, os


intervalos entre elas vêm encolhendo nos últimos 120 milhões de


anos. Sabemos disso porque cada inversão deixa uma assinatura


nas rochas magnéticas, suscetíveis a mudanças de orientação do


magnetismo terrestre quando aquecidas. Ao resfriarem, mantêm a


nova orientação, reproduzindo no tempo a coreografia dos pólos


magnéticos. Portanto, a próxima inversão está bem atrasada.


Vivemos num período de relativa estabilidade que não durará para


sempre. E os primeiros sinais estão já aparecendo.

A propósito deste texto insiro mais dois poemas
Outrora



Outrora, seriam por certo diferentes


o achatamento polar, o campo magnético, a atracção lunar


e, como tal, o peso das coisas, as marés.


Diferença subtil, irrelevante,


pois se esse tempo, à escala humana é já distante,


à escala do Universo ainda é presente.


Outrora, seriam por certo diferentes as gentes que no castro habitavam


mas como hoje, sofriam, amavam e guerreavam em sangrentas batalhas,


deixando virgens, talvez para sempre, tímidas donzelas.


Testemunhas desse tempo, as muralhas,


naturais do lado do abismo, do outro lado humana construção,


como também humana a destruição que de onde em onde grassa.


Ignorou-se que enquanto o tempo passa,


as pedras guardam na memória os feitos da história,


o sangue derramado, a glória, o revés.


Em terras que com sangue foram adubadas,


florescem hoje papoilas encarnadas


por entre alvas estevas, roxas arçãs e giestas amarelas.


Na Primavera, todas elas salpicam a ladeira do castro até ao rio.


Deste, quem sabe, o rumor será ainda eco dum clamor,


outrora lançado no vazio.

Regina Gouveia in Magnetismo terrestre


Einstein



Fascinou-o uma bússola que lhe deram em menino


Talvez apontasse, bem cedo, o seu destino


cujos indícios não eram evidentes.


Como imaginar que um funcionário do registo de patentes,


com o estigma da época -era judeu -


pudesse vir a ombrear um dia com Newton e Galileu?


Espírito inquieto, infatigável,


havia de empreender uma aventura notável


pelos trilhos da ciência.


Para a luz, sublime, etérea, com audaz clarividência,


previu a curvatura face à gravitação.


Os dados colhidos num eclipse solar deram-lhe razão.


Nobel da Física, ganhou o galardão


pelos estudos da interacção luz e matéria.


Tolerante, livre, com a maior dignidade


caminhou sempre em busca da verdade


o que originou na ciência, uma revolução -


a relatividade, com novas relações espaço –tempo,


que ainda não cabem no vulgar entendimento.


Talvez qualquer mortal ouse afirmar


que a velocidade provoca no tempo uma dilatação


enquanto que no espaço provoca contracção.


(provavelmente não sabe é o porquê),


e com idêntica ousadia falará na relação massa-energia,


E = mc2 que, por ironia, iria contribuir para a chacina


em Nagasaqui e também em Hiroshima.


Entristeceu-o tão bárbara imprudência,


tanta estupidez no uso da ciência.


“Com armas podem vencer-se guerras, mas a paz não se conquista”


era o seu lema de empenhado pacifista


Um dia deixou de bater o coração


mas a inteligência deixou-a, como legado, para a ciência.


O seu espírito, liberto agora das pressões do mundo,


talvez vagueie num espaço- tempo mais profundo


a uma velocidade, quiçá maior que c.

Regina Gouveia, não publicado

Volver paisagem-Uma exposição a não perder

No Fórum Cultural de Ermesinde está patente ao público a exposição Volver paisagem de Domingos Loureiro. Tenho o privilégio de ser sua aluna na escola Utopia. É um jovem artista , já com um inquestionável reconhecimento no campo das Artes Plásticas. Domingos Loureiro é um artista premiado, que já participou em inúmeras exposições, individuais e colectivas
Relativamente a esta exposição pode ler-se aqui:

O trabalho de Domingos Loureiro é inconfundível, assumindo um misto de gravação (escultura) com pintura mais tradicional. O seu trabalho é marcado pela paisagem, que é tratada através da manipulação de imagens e da sua sucessiva gravação por sulcos em superfícies de madeira, que são depois pintadas.


Para o Fórum Cultural de Ermesinde Domingos Loureiro propõe-nos, desta vez, um projecto de pintura distinto do seu restante trabalho, no qual a madeira dá lugar ao vidro. Agora apenas a temática é mantida – a paisagem. Nas palavras do artista, «a pintura neste projecto nasce do princípio de experimentação pictórica de uma vivência física da Natureza, sendo realizada de modo, aparentemente, expressivo e solto, aproximando-se de um exercício gestual e com interferência do acaso. Só depois de observação atenta, no entanto, se percebe que a sua execução é um processo de grande domínio. O domínio está patente no recurso ao vidro como suporte e na inversão do processo acumulativo de camadas da pintura: a pintura é realizada de trás para a frente, sendo mais visíveis as primeiras camadas do que as últimas, ao contrário do que acontece quando se pinta sobre uma superfície, em que as primeiras camadas são na maioria das vezes completamente cobertas com as camadas sucessivas. Neste processo, a pintura não pode ser retocada, ou sofrer interferências depois de toda a superfície ter sido coberta de tinta». Uma exposição a não perder!

 Hoje fui ver a exposição e mais uma vez senti um grande orgulho por conhecer este jovem que considero muito, não apenas do ponto de vista artístico mas também do ponto de vista humano
E para quem não conhece o Fórum Cultural de Ermesinde aqui ficam  imagens.


Trata-se a de um edifício moderno, a meu ver muito interessante, que tem por base uma antiga fábrica de cerâmica, da qual ficaram testemunhos muito bem integrados na obra

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O FLUIR DO TEMPO CELULAR

O título deste post fui buscá-lo a um artigo com o mesmo nome publicado em De Rerum Natura da autoria de António Piedade, texto de que transcrevo um excerto

Crónica publicada no "Boas Notícias".


Henrique observa ao microscópio óptico uma gota de sangue. É fantástico o número elevado das células de cor vermelha que dão cor ao sangue. São glóbulos vermelhos, também designados por eritrócitos ou hemácias. Praticamente não consegue observar nenhum outro tipo de célula naquela amostra. Henrique olha para o quadro interactivo na parede da sala de aula e lê que num mililitro de sangue existem entre cerca de 4,5 a 6,5 milhões de glóbulos vermelhos! Ou seja, em dois mililitros de sangue existe mais ou menos o mesmo número de células do que habitantes em Portugal! Henrique olha de novo para a amostra de sangue através do microscópio. Apesar de cada eritrócito medir cerca de 0,007 milímetros, com a ampliação combinada das lentes oculares e objectivas do microscópio, consegue ver as células com um diâmetro aparente de cerca de 3,5 milímetros. Foca a sua atenção numa delas e observa que o glóbulo vermelho é uma célula sem núcleo. Todo o interior daquelas células em forma de disco bicôncavo parece homogéneo, como se todas as substâncias no seu interior estivessem igualmente distribuídas. Henrique regressa com o seu olhar ao quadro interactivo e lê, numa legenda sobre o interior do glóbulo vermelho, que o seu citoplasma é constituído maioritariamente por hemoglobina, uma proteína que possui na sua constituição átomos de ferro e que é responsável pelo transporte de oxigénio desde os pulmões até todas as células do corpo. Quanto tempo demora essa viagem? Quanto tempo é o carrossel sanguíneo, uma volta completa ao corpo? Depende de vários factores, sendo mais determinante o número de vezes que o coração bate e impulsiona o sangue num determinado período de tempo. Num adulto, com uma frequência de 70 batimentos por minuto, um glóbulo vermelho demora cerca de 20 segundos a percorrer a vascularização sanguínea que leva oxigénio desde os pulmões até a um dedo do seu pé e voltar de novo aos pulmões para se libertar do dióxido carbono produzido pelo funcionamento celular e renovar o seu carregamento oxigenado. Como uma hemácia vive em média 120 dias, Henrique calcula mentalmente que cada uma destes discos celulares passa cerca de 500 mil vezes pelo seu coração até ser substituído por outro glóbulo vermelho gerado na sua medula óssea, num processo designado por eritropoese.(...)



Sangue
60% plasma
40% células sanguíneas - Eritrócitos a vermelho, Plaquetas mais pequenas azuladas e leucócitos)



A imagem foi retirada daqui





Ao ler o texto senti necessidade de clarificar alguns conceitos. Procurei na NET e, em sites que me pareceram fidedignos dada a sua origem, colhi as informações que seguem.

Nas células eucariotas o núcleo está rodeado por una membrana nuclear, enquanto que nas procariotas não existe a dita membrana, pelo que o material nuclear está disperso no citoplasma Os seres vivos que são constituídos por estas células são denominados procariotas, compreendendo principalmente as bactérias, e algumas algas (cianofíceas e algas azuis) que também são consideradas bactérias.









Termino com poesia
Ritmo


Em legítima defesa


a roseira usou as suas garras.


O sangue que parecia azul


no emaranhado de vasos que me tatuam a mão,


agora, rubro como a rosa, a gotejar.


De imediato, plaquetas vigilantes


começam a urdir uma teia


para impedir as gotas rubras de fluir.


Com o plasma as demais plaquetas


continuam a viagem


entre leucócitos e eritrócitos, mais que um bilião.


E o coração pum…pum, sístole… diástole


O sangue a fluir entre os pulmões e o coração


a irrigar os órgãos um a um


E o coração pum…pum, sístole… diástole


O sangue infatigável a prosseguir viagem


a fluir venoso, arterial,


embora de aspecto sempre igual


e não azul e encarnado c


omo é por vezes ilustrado


Pum…pum, sístole… diástole,


e o coração sem paragem


num movimento ritmado,


que guarda na memória


até um dia em que não mais se lembra de pulsar

Regina Gouveia, não publicado


Poema do Coração


"Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,


e também a Bondade, e a Sinceridade,


e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração


Então poderia dizer-vos:


"Meus amados irmãos, falo-vos do coração",


ou então:


"com o coração nas mãos".


Mas o meu coração é como o dos compêndios


Tem duas válvulas ( a tricúspide e a mitral)


e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).


O sangue a circular contrai-os e distende-os


segundo a obrigação das leis dos movimentos.


Por vezes acontece


ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados


e uma lâmina baça e agreste, que endurece


a luz nos olhos em bisel cortados.


Parece então que o coração estremece.


Mas não.


Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,


que esse vento que sopra e ateia os incêndios,


é coisa do simpático.


Vem tudo nos compêndios.
Então meninos!  Vamos à lição!


Em quantas partes se divide o coração?"

António Gedeão - Poemas

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Portugal de sucesso

Diário de um professor- Fome nas escolas


Publicado em 19 de Novembro de 2010 por Arnaldo Antunes

Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos. Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar. De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude. Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas…Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?

É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos.

Nó cego in Público
Excertos de um artigo de António Barreto

No rescaldo das eleições presidenciais de 1996, detectavam-se facilmente os problemas políticos mais importantes para os quais uma resolução era necessária e um esforço urgente: a justiça e a corrupção. Nestes cinco anos, essas dificuldades agravaram-se. Justiça deficiente e corrupção alimentam-se reciprocamente e combinam à perfeição com um sistema de partidos e de governo que as tornou indispensáveis à sua manutenção. A Administração Pública submeteu-se ainda mais à voracidade partidária. Alguns interesses económicos, os que mais dependem do Estado e os que menos escrúpulos têm, souberam capturar as instituições públicas e a decisão governamental. Certos interesses profissionais e corporativos conseguiram também, por outras vias, fazer o Estado refém e organizar, a seu proveito, os grandes serviços públicos e sociais. Assim, o Estado perdeu a sua liberdade, a sua isenção e a sua capacidade técnica e científica. É o administrador dos interesses de algumas corporações e de alguns grupos económicos. Por esse serviço, o Estado cobra, para os partidos, uma gabela ou um tributo. A corrupção, em Portugal, não é apenas o pagamento ilegal feito para obter vantagens públicas. É um sistema, frequentemente legal, de cruzamento de interesses e favores, de benefícios e vantagens, ao qual ninguém, nos superiores órgãos de poder político, parece querer realmente colocar um travão. Fora dos órgãos de poder político, só a justiça poderia ser, em teoria, um freio e um antídoto a este sistema. Acontece que a justiça se transformou também em parte integrante deste sistema. A sua ineficácia ainda é o menor dos males. Bem pior, na verdade, são os protagonistas e os principais activistas do sistema judiciário (conselhos superiores e sindicatos) que pretendem agora, explicitamente, uma maior fatia dos proventos económicos e do poder político.


Estes dois artigos transportaram-me para um texto de Vinícius de Moraes, musicado por Carlos Lyra e que eu tenho em Vinil , na voz de Zélia Barbosa.
Creio que também foi cantado por Elba ramalho mas não existe no You tube . Consegui apenas um pequenino trecho na voz de cantor desconhecido. Aqui fica juntamente com a letrra

Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha


eu não tinha nada que fome que eu tinha ,


que seca danada no meu Ceará


eu peguei e juntei um restinho de coisas que eu tinha :


duas calças velhas e uma violinha


e num pau de arara toquei para cá.

E de noite eu ficava na praia de Copacabana


zazando na praia de Copacabana


dançando o chachado pras moças olhá


Virgem Santa que a fome era tanta


que nem voz eu tinha


Meu Deus quanta moça que fome que eu tinha


Mais fome que tinha no meu Ceará


Puxa vida que num tinha uma vida


pior do que a minha


que vida danada , que fome que eu tinha


zazando na praia pra lá e pra cá


Quando eu via toda aquela gente no come que come


eu juro que eu tinha saudades da fome


da fome que eu tinha no meu Cearà


e ai eu pegava e cantava e dançava o xaxado


e só conseguia porque no xaxado


a gente só pode mesmo se arrastá.


Virgem Santa que a fome era tanta


qu'inté parecia que mesmo xaxado meu corpo subia


igual se tivesse querido voar.


Vou-me embora pró meu Ceará


porque lá tenho um nome

aqui não sou nada sou só Zé com fome


sou só Pau de Arara nem sei mais cantar


vou picar minha mula


vou antes que tudo rebente


porque estou achando que o tempo está quente


pior do que antes não pode ficar.


E para quem evntualmente não saiba, aqui fica o esclarecimento:

pau de arara:


camião coberto, dotado de varas longitudinais na carroceria, usado para transporte de passageiros , principalmente imigrantes do nordeste brasileiro para o sul do país;

nordestino que emigra geralmente para o Sudeste do Brasil, viajando em paus-de-arara.




Termino com António Aleixo

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ainda o principezinho

As pessoas grandes adoram números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: Qual é o som de sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele colecciona borboletas? Mas perguntam: Qual é a sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai? Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: Vi uma bela casa de tijolos cor de rosa, gerânios na janela, pombas no telhado...elas não conseguem, de modo algum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: vi uma casa de seiscentos contos. Então elas exclamam: Que beleza!" (in o Principezinho)


No passado sábado fui, a convite de uma associação relacionada com determinadas crianças, fazer para as mesmas, e durante 2 h e 30 min, uma sessão de ciência e poesia.

Quando me contactaram explicando-me o que pretendiam, perguntaram quais seriam os honorários, mas como eu percebi que a referida associação vivia muito de boas- vontades, decidi que o faria graciosamente, como habitualmente faço.

Como sempre, preparei as actividades tendo em conta o público a que se destinavam e sábado, levantei-me às 8 h e 30 min, saí de casa com um frio glacial e, às 9 h e 45 min, estava eu de “trouxas e bagagens” (levei vário equipamento para fazer algumas experiências simples) em frente à porta que me haviam indicado. Trata-se de uma universidade privada com vários departamentos e ninguém me sabia informar onde me deveria dirigir. Subi e voltei a subir escadas, desci e voltei a descer escadas até que um funcionário, não muito simpático, me disse. Só se for naquela sala. Fui para a porta da sala que me foi indicada e esperei. Às 10 h e 10 min ainda não tinha aparecido ninguém. Tinha-me esquecido de pedir o contacto ao senhor que me contactou em nome da referida associação (e ele tinha-se esquecido de que era importante eu tê-lo), pelo que não sabia o que fazer. Vi então subir para o andar imediatamente acima daquele onde me encontrava, uma jovem com duas crianças. Fui ter com ela e percebi que vinha acompanhar as crianças para a dita sessão. Também não sabia onde era, tentou contactar o senhor mas estava incomunicável. Decidimos então dirigir-nos para a sala que me havia sido indicada pelo referido funcionário e admiti que fosse ali a sessão dado que estava lá um retroprojector que eu tinha pedido (para explorar algumas experiências). Faltavam no entanto o computador e o vídeo que me tinham garantido.

Passado algum tempo apareceu um senhor muito prestável, com um computador, mas sem vídeo. Disse-me vir da parte da pessoa que me contactara. Foi tentar então arranjar um vídeo na referida universidade. Entretanto já passava das 10 h e30 min. Conseguido o vídeo, não conseguiu fazer a comunicação com o PC. Apareceu um outro senhor e, por mais que se empenhassem, não resolviam o problema. Pedi-lhes por favor que desistissem pois as crianças já estavam muito inquietas, o que era absolutamente normal. Comecei a sessão depois destas contrariedades todas. Estavam as crianças e duas pessoas adultas, creio que ambas pertencendo à Associação. Embora participando de uma forma um pouco anárquica, querendo todas falar ao mesmo tempo, genericamente as crianças eram muito interessadas. Apenas duas ou três mostravam um ar de tédio, que era evidente não só nas crianças. A dada altura uma criança perguntou-me quando iriam fazer os origamis. Quando lhe respondi que aquele sessão era sobre ciência e por isso estávamos a fazer algumas experiências, a criança respondeu-me que estava convencida que a sessão era sobre origamis.

Talvezpor volta das 11 h,30 min disseram-me que deveria interromper para as crianças irem comer qualquer coisa. Alguns pais entraram e eu perguntei por que razão os pais não estavam a assistir. Seria provavelmente mais agradável do que estarem fora à espera, além de que podiam ver as actividades e ajudar posteriormente as crianças a realizá-las, se quisessem.

A sugestão não colheu adeptos…

Saíram todos e eu decidi ir tomar qualquer coisa quente pois estava com muito frio. Lá tive que andar pelo edifício, à procura de um bar.

Quando regressei já estavam na sala, incansáveis, os dois senhores com o computador e o vídeo, tentando de novo a comunicação, que decididamente não conseguiram.

Prossegui com a sessão até ao fim. Quando a mesma acabou, às 12h e 30 min, comecei a arrumar as coisas. Precisava de deitar fora água que tinha usado para uma actividade ( e que uma mãe muito gentilmente me tinha arranjado logo no início da sessão). Uma das pessoas que tinham acompanhado a sessão respondeu-me que no corredor havia um caixote do lixo. Aí, já um pouco incomodada, disse : mas eu não vou deitar água num caixote do lixo. Levou a garrafa com água que posteriormente me entregou vazia. Nessa altura despediu-se de forma breve, dizendo obrigada.

A que propósito refiro isto após um excerto do Principezinho? Porque dei comigo a pensar. Neste últimos anos tenho feito muitas dezenas de sessões em escolas, bibliotecas, centros de ciência, centros culturais e sempre fui acolhida com uma afabilidade extrema, que neste caso não existiu.

Quando ao almoço comentava isto, alguém disse. Acredita que se tivesses cobrado honorários, terias tido um acolhimento diferente e tanto melhor quanto mais elevados os honorários fossem.

Não quero acreditar que assim seja. Provavelmente tudo teve a ver com o frio e os percalços iniciais..Ou então sou eu que estou a ficar susceptível…

domingo, 23 de janeiro de 2011

Encantos e desencantos

Cidadãos tristes, fartos e desencantados
“As pessoas estão fartas”. A frase de um dos eleitores ouvidos pelo PÚBLICO resume o desencanto com a política, os políticos, a campanha e a situação do país. (Na mesma página poderão aceder a pequeno vídeo revelador desse desencanto)
já na mensagem anterior dei conta do meu desencando face á hipocrisia desta campanha eleitoral
Hoje, após votar, fui em busca de algum encanto, ver José e Pilar, um “filme” que aconselho vivamente
Aqui deixo uns “minutinhos “do mesmo

O desencanto regressou quando os telejornais apresentaram os primeiros resultados.Se é certo que nenhum me encantaria,  também é certo que outros  me desencantariam menos....

Lembrei-me do poema Desencanto de Manuel Bandeira

Decidi ir novamente em busca de algum encamto e regressei a Saramago. Aqui deixo a maior flor do mundo

sábado, 22 de janeiro de 2011

Carta ao principezinho

Já há muito que não escrevia uma carta mas senti uma necessidade imperiosa de contactar com o principezinho. Dele apenas conheço a morada. Nem telefone , nem e-mail…
Decidi então escrever-lhe

Ao Principezinho
Asteróide B612

Caro principezinho.

Deves achar estranha esta carta pois possivelmente nem sabes quem eu sou.

Mas eu conheço-te desde os meus 12 anos e nunca mais te esqueci. Tão pouco esqueci a descrição da tua viagem e as tuas conversas com Saint Exupéry, que ele tão bem nos legou.

Como estão o teu planeta, a tua flor e o teu carneiro? Como resolveste o problema com a mordaça? Tens estado atento aos vulcões e aos baobás? Tenho a cereteza que sim pois, tal como o acendedor de lampiões que encontraste no quinto planeta que visitaste, tens pleno sentido da responsabilidade

Voltaste à Terra? Suponho que não. Não creio, aliás, que gostasses do que irias ver. Está infestada de pessoas que pensam como o homem de negócios e como o rei. O ter e o poder passaram a valores primordiais. Cada vez mais agitados, os homens correm de um lado para o outro sem conhecer o sabor da água de uma fonte cristalina
Gostaria de emigrar para o teu planeta mas sei que é pequeno demais.
Ainda espero que neste meu planeta nos dêmos conta, um dia, de que o essencial é invisível para o olhar. Entretanto vou continuar a estar atenta ao teu riso vindo lá das estrelas
Se quiseres responder-me podes fazê-lo para o meu blogue www.docaosaoscomos.blogspot.com

Surgiu-me a ideia de colocar esta mensagem ao reler pela enésima vez o livro.

A necessidade de o reler surge-me em diferentes situações. Sei que neste momento,  a “mola” foi toda a hipocrisia desta campanha eleitoral .

Provavelmente todos os que lêem este blogue conhecem o livro.
Se o não conhecem, experimentem lê-lo. Por certo irão gostar.
De qualquer modo deixo dois excertos escritos e o link para três vídeos com o texto não integral ( faltam-lhe excertos belíssimos)

O pricipezinho no planeta do geógrafo


O pricipezinho no planeta do acendedor de lampiões

O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões
O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:
- Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:
- Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?
- É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.
- Que é o regulamento?
- É apagar meu lampião. Boa noite.
E tornou a acender.
- Mas por que acabas de o acender de novo?
- É o regulamento, respondeu o acendedor.
- Eu não compreendo, disse o principezinho.
- Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.
E apagou o lampião.
Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos.
- Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
- E depois disso, mudou o regulamento?
- O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!
- E então? disse o principezinho.
- Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!
- Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!
- Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.
- Um mês?
- Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite.
E acendeu o lampião.
O principezinho considerou-o, e amou aquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou-se dos pores-do-sol que ele mesmo produzia, recuando um pouco a cadeira. Quis ajudar o amigo.
- Sabes? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...
- Eu sempre quero, disse o acendedor.
Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.
E o principezinho prosseguiu:
- Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.
- Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.
- Então não há remédio, disse o principezinho.
- Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia.
E apagou seu lampião.

Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.

Suspirou de pesar e disse ainda:

- Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...

O que o principezinho não ousava confessar é que os mil quatrocentos e quarenta pores-do-sol em vinte e quatro horas lhe davam certa saudade do abençoado planeta.


Vídeos


 http://www.youtube.com/watch?v=KC3UQ5ekigM&feature=related

(Parte I)

http://www.youtube.com/watch?v=8s8ARIit_5I&NR=1

(Parte II)

http://www.youtube.com/watch?v=6RlJcKhN578&NR=1

(Parte III)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Teatro S. João

Ontem, numa iniciativa do Vivacidade  fui visitar o Teatro S. João.

A imagem foi retirada daqui
A visita, muito interessante, foi orientada por duas jovens muito atenciosas, a Débora e a Vera.

Começámos por ouvir uma breve resenha da história do teatro S. João. O essencial do que nos foi dito pode ser encontrado aqui  site onde sequencialmente vão sendo passadas imagens do interior do edifício

A breve resenha histórica foi acompanhada de outras informações e ainda com alguns dados burlescos

Comecemos por estes últimos.

Os camarotes encostados ao palco, hoje não são vendidos. Um deles, que tem fácil acesso ao palco, é destinado aos bombeiros; os outros são eventualmente ocupados por técnicos de som e luz ou outros. Dali apenas se pode ver metade do palco pelo que não servem para assistir a qualquer espectáculo. Mas, curiosamente, foram dos camarotes mas disputados quando as pessoas iam ao teatro não para verem , mas para serem vistas

Também, em tempos que já lá vão, as pessoas levavam uma “merenda “ para comer e,  muitas vezes, os restos serviam de peças arremesso durante os espectáculos, em que, à semelhança do que hoje ocorre com as claques do futebol, se “confontavam” os que apreciavam e aplaudiam a peça com os que não gostavam e por isso vaiavam, pateavam, etc
Consta que, um desse confrontos, teria sido arremessado, para a plateia, um osso de uma perna de carneiro

Quanto às informações, houve um esclarecimento quanto às diversas funções necessárias ao funcionamento de uma peça (actores, encenadores, cenógrafos, figurinistas, sonoplastas, técnicos de luz) sendo realçado o papel fundamental do director de cena, que tem que assegurar que tudo (luz, som , actores, adereços, etc), entre em cena no momento exacto

Após esta introdução começou a visita propriamente dita,  aos bastidores, ao fosso de orquestra e finalmente à sala que, possivelmente, já todos conhecem onde, nos meus tempos de universitária,  vi algumas fitas de cinema

Foi feita uma referência à sua forma em ferradura e a relação que essa forma tem com a acústica .
Para quem se interesse por este aspecto, que mostra a relevância da Física em mais esta área, aconselho este site
À noite fui ver a peça 1974, em exibição no Teatro, e levada a cabo pelo Teatro Meridional
Na peça  "avista-se Portugal do alto de um promontório, o ano de 1974, ponto a partir do qual é possível, entre continuidades e rupturas, esboçar um antes e um depois na nossa história contemporânea. O Estado Novo, o 25 de Abril, a integração europeia e a “normalidade democrática” – matéria exposta para indagar, de uma forma mais evocativa do que ilustrativa, essa abstracção que leva o nome de “identidade portuguesa”. E como vem sendo habitual no trabalho deste colectivo (recordemos Para Além do Tejo e Por Detrás dos Montes), essa indagação faz-se por via de uma contida e expressiva rede de gestos e músicas, que quase prescinde da palavra para comunicar. Onze actores contam então com o corpo o tempo e o modo deste país eternamente adiado, levantando pequenas fábulas sobre a “efemeridade da utopia”, para pegarmos nas palavras do encenador Miguel Seabra, esse superlativo orquestrador de sentidos. Com 1974, retomamos contacto com o Meridional num momento particularmente feliz do seu percurso: foi distinguido em 2010 com o XII Prémio Europa Novas Realidades Teatrais, atribuído pela União dos Teatros da Europa."

Gostei bastante da peça onde se evidencia o papel importantíssimo do director de cena .

A propósito de teatro insiro com uma pintura de Antoni Clavé, que fez muitos trabalhos no domínio da cenografia ,  e um poema de Gastão Cruz


O Teatro das Cidades


Qualquer tempo é um tempo duvidoso


assim o meu cercado de cidades


plataformas instáveis


praticáveis cobertos de infinita gente náufraga


que se inclina nas águas como um palco






Paro na convergência dos estrados


chove já sobre a raça ameaçada


Incertas multidões em volta passam


contemporâneas falam interpretam


a duvidosa língua das imagens


Assim no teatro abstracto das cidades


morrem palavras sobre um palco náufrago


O tempo cobre o céu que se enche de água


Gastão Cruz, in "O Pianista"



Termino com o Chico Buarque e Vida e morte severina João Cabral de Melo Neto

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Requiem pelo guarda chuva

Acho o guarda chuva um objecto obsoleto, por isso raramente o uso. Muno-me de uma capa com capuz e tento enfrentar a chuva. Apesar disso, já perdi dezenas. Não sei se é o meu sub - consciente que rejeita um objecto que é um estorvo. Tentei substituir o estorvo por algo mais funcional.. Comecei pelos guarda chuvas de encartar, menos perdíveis e fáceis de guardar, quando secos….. Há anos vi alguém com um guarda - chuva vulgar, munido de um fio que ligava o cabo à ponta, permitindo transportá-lo ao ombro. Desda essa data passei a adaptar todos os guarda-chuvas de modo a poder usá-los ao ombro.

Mas acabei por constatar que ambas as soluções continuavam obsoletas. Se a chuva vem acompanhada de vento, nenhum guarda - chuva serve, pelo que não adianta abri-los. Foi então que dei comigo, em dias de chuva e vento intensos, toda molhada a passear um guarda chuva ao ombro. Aí disse BASTA

Ora os obsoletos guarda-chuvas têm os dias contados. O Nubrella, guarda-chuva mãos livres, já é patente registada e já chegou a vários países. Em breve chegará a Portugal Se quiserem saber mais consultem Ciência Hoje e vejam o filme


Na Mesopotâmia, região do actual Iraque, há 3400 anos já existiam artefactos destinados a proteger a cabeça dos reis - contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro.. No Egipto, adquiriram significado religioso e na Grécia e em Roma eram tidos como artigo exclusivamente feminino. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), conseguiria torná-los dignos também de um gentleman. Embora ridicularizado em vida, após a sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos sempre frequentes dias de chuvas do país in Wikipedia

Os problemas que decorrem com o vulgar guarda chuva em dias de vento, nasceram com ele.
A explicação, essa surgiu no século XVIII com a lei de Bernouilli

O objecto em si, chegou aos nossos dias com muito pouca evolução. Variações, só quase no nome. Em Portugal, guarda chuva no norte, chapéu de chuva,(ou simplesmente chapéu) no sul. Em Trás-os-Montes, tinha, no meu tempo de criança, outras designações: Se era de homem chamava-se sombreiro e se era de mulher, sombrinha.
Nunca se chegou a chamar basílica,  hipótese levantada por Saramago na sua fabulosa obra "Memorial do Convento"

É então que começa a sair a procissão. Vêm à frente as bandeiras dos ofícios(....)    a basílica de Santa Maria Maior , que é sombreiro, e também a basílica patriarcal , ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos começam a chamar basílica aos chapéus de chuva, Mandei pôr um  cabo novo à minha basílica , Tenho a minha basílica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha basílica no autocarro...

Mas o guarda chuva tem o seu lado poético, trabalhado por  cineastas e pintores. A testemunhá-lo, entre outros, os filmes  Mary Poppins , os  Chapéus de chuva de Cherburgo, Dancing in the rain e a  obra de Renoir  "Les Parapluies"


Não sei se foi o meu lado mais poético ou a minha aversão ao guarda chuva que me levou a escrever há já algum tempo, o poema que aqui deixo

(In)sensibilidade


Chove torrencialmente


e o poeta,


náufrago dentro dos sapatos


que a chuva transformou em tristes barcos,


vai e nem se apercebe de que a chuva cai.


Na sua mente enlaçam-se dores, alegrias,


memórias dispersas de longínquos dias.


O poeta vai


e nem se apercebe


de que a chuva cai ímpia, inclemente.


Pendurado no braço, pálio sem função,


vai o guarda chuva, a roçar o chão.


Abrandou a chuva que já cai serena .


O poeta vai


mas não se apercebe de que a chuva cai.


Dançam as memórias , eclode um poema.


No rosto do poeta emerge um sorriso.


Abre o guarda chuva mas já não é preciso.


Regina Gouveia ( não publicado)


Morreu o Umbrella. Viva o Nubrella

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tanto neutrino atravessando o nada...

Detector gigante de neutrinos no Pólo Sul já está concluído
A notícia foi publicada em Ciência Hoje 2011-01-04
Objectivo dos cientistas é compreender as fontes de energia do cosmos e a natureza da matéria escura


Está terminada a construção do IceCube, o detector de neutrinos do Pólo Sul com mais de um quilómetro cúbico e enterrado a 1400 metros de profundidade. O seu objectivo é detectar a «radiação de Cherenkov» que se produz quando os neutrinos chocam contra átomos de gelo. Estas partículas subatómicas produzem-se no Sol, nas supernovas e nos buracos negros e, devido ao seu tamanho são muito difíceis de detectar. No entanto, o tamanho deste detector, que demorou dez anos a ser construído e custou 270 milhões de dólares, poderá garantir o êxito do projecto.


O IceCube fornece meios inovadores para os cientistas estudarem as propriedades destas partículas fundamentais. Os seus sensores ópticos sofisticados vão gravar as colisões entre as moléculas de água do gelo e os neutrinos.


Milhares de milhões de neutrinos atravessam o planeta a cada segundo, mas devido à sua massa – menos de um milmillonésima parte da massa de um átomo de hidrogénio – muito raramente colidem com algum átomo, o que as torna praticamente indetectáveis.


Foi por isso necessário construir um detector gigante. Para que o seu funcionamento não seja afectado por outras partículas ou radiações, optou-se por instalá-lo a 1400 metros debaixo da superfície de gelo que cobre o Pólo Sul.


Os sensores com o tamanho aproximado de uma bola de basquetebol têm como função detectar a luz azul chamada «radiação de Cherenkov» que se produz quando os neutrinos chocam contra átomos de água em forma de gelo.


Os cientistas esperam com este detector encontrar neutrinos de altíssima energia originários de explosões de supernovas, raios-gama e buracos negros. Correlacionar o número e a energia dos neutrinos detectados com esses eventos pode ajudar os cientistas a explicar a sua natureza, bem como a entender as fontes de energia escura e a matéria escura.


A motivação dos investigadores, explicam os próprios, é “compreender o Universo”, especificamente o que “alimenta os motores mais energéticos do cosmo e alimenta o bombardeamento de raios cósmicos para a Terra”. Além disso, querem também “compreender a natureza da matéria escura”.


Caminhada

Flores tímidas, selvagens, atapetam o chão.
Coberta de líquenes e musgo, a fraga, ao fundo,
onde frágil se equilibra uma oliveira
que espreita a queda de água
que escorre na ladeira
onde agoniza um pombal, já sem função.
Um balir de rebanho rompe o ar dolente
e uma avezita, que emerge de um sobreiro,
oma por seu mundo o céu inteiro.
Medito enquanto calcorreio o caminho lentamente.
Quanta transformação química ocorrida 
para transformar húmus em vida?
Quanta energia transformada?
Quanto neutrino atravessando o nada?

      Regina Gouveia, in Magnetismo Terrestre

      Fotografia de Fernando Gouveia

domingo, 9 de janeiro de 2011

2011-Ano Internacional da Química

Ano Internacional da Química
Em ciência Hoje pode ler-se :
Carlos Corrêa, professor Emérito do departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade, vai ser o Conselheiro Ciência Hoje para o Ano Internacional da Química que decorre em 2011.
(...)Que significa isto? Que o professor catedrático, jubilado em 2006, acompanhará o Ciência Hoje no noticiário relacionado com tudo o que tenha a ver com este Ano Internacional, nomeadamente dando sugestões, fazendo recomendações e fornecendo respostas a questões que nos sejam colocadas neste âmbito.
(...)«Dado que tenho mais tempo que os meus colegas no activo, sinto-me na obrigação de dar a minha colaboração ao CienciaHoje (que muito estimo). Não se trata de "alguém muito qualificado" mas alguém que tentará ajudar recorrendo a colegas nas diferentes áreas da Química quando achar necessário. Alguém que, do ponto de vista químico,tentará ajudar o vosso trabalho ao longo do ano», escreveu-nos respondendo ao convite que lhe foi endereçado.

Tive o privilégio de trabalhar alguns anos com o Professor Carlos Corrêa, essencialmente na orientação dos estágios pedagógicos, mas também em outros projectos. Alia de uma forma invulgar, o humor a química e o ensino da mesma.

E porque neste blogue se fala também de poesia, deixo alguns poemas relacionados com a química

Química

Sublimemos, amor. Assim as flores


No jardim não morreram se o perfume


No cristal da essência se defende.


Passemos nós as provas, os ardores:


Não caldeiam instintos sem o lume


Nem o secreto aroma que rescende.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"


Poema das folhas secas de plátano

As folhas dos plátanos desprendem-se e lançam-se na aventura do espaço,


e os olhos de uma pobre criatura comovidos as seguem.


São belas as folhas dos plátanos quando caem, nas tardes de Novembro


contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento.


Ondulam como os braços da preguiça no indolente bocejo.


Sobem e descem, baloiçam-se e repousam,


traçam erres e esses, cicloides e volutas,


no espaço escrevem com o pecíolo breve,


numa caligrafia requintada, o nome que se pensa,


e seguem e regressam, dedilhando em compassos sonolentos


a música outonal do entardecer.


São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.


Eram lisas e verdes no apogeu da sua juventude em clorofila,


mas agora, no outono de si mesmas,


o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,


deixou-se trespassar por afiado ácidos.


A verde clorofila, perdido o seu magnésio, vestiu-se de burel,


de um tom que não é cor, nem se sabe dizer que nome tenha,


a não ser o seu próprio, folha seca de plátano.


A secura do Sol causticou-a de rugas,


um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos,


e esta real e pobre criatura


vendo o solo coberto de folhas outonais


medita no malogro das coisas que a rodeiam:


dá-lhes o tom a ausência de magnésio;os olhos, a beleza

António Gedeão in “Poemas Póstumos”


Cores outonais


O muro de xisto é já uma ruína
mas a vinha, velha e tão cansada,
exibe de novo os seus tons outonais.
Numa subtil gradação de frequências a folhagem é agora amarelada, acobreada,
cor de vinho, acastanhada.
Ostentam cores outonais também,
mais além, a pereira e o marmeleiro.
Enquanto transferências de electrões desencadeiam oxidações e reduções,
carotenos e antocianinas
conjugam-se em paisagens quase surreais.
Sentada numa fraga, ao lado de um sobreiro,
quero perpetuar estes instantes, transformar em eterno este momento,
mas o agora de há pouco, já é antes, nesta implacável corrida do tempo.

                              Regina Gouveia in "Magnetismo Terrestre"                   (foto de Fernando Gouveia)

Indicador

Indicador, o que indica, pode ser dedo da mão,


mas também identifica carácter de solução.


Pode ser o tornesol  ou a fenolftaleína,


pode ser bromotimol, ou também heliantina.


Há quem não encontre o rumo e precise de um sinal,


talvez um fio de prumo que lhe indique a vertical.


Há quem passe pela vida,só entregue à sua sorte,


com a bússola perdida, jamais encontrando o norte,


deixando confusos rastos.


Há quem diga que os astros no Universo em expansão


são grandes indicadores.


Há quem neles leia amores, venturas e dissabores.


E há quem leia uma paixão num simples ramo de flores

Regina Gouveia in "Reflexões e interferências"



E a terminar,  “lágrima de preta” de António Gedeão, na voz de Manuel Freire

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Sr. Álvaro...

Já aqui referi que às quintas feiras de manhã, como membro da Liga dos Amigos do Hospital de Santo António, sou voluntária no referido Hospital.
Precisamente hoje, 5ª feira, passei a manhã a acompanhar o Sr. Álvaro, de sessenta anos, invisual desde os quatro.
Um homem cheio de vontade de viver, casado com uma senhora invisual de quem fala com muito carinho, o Sr. Álvaro está a aprender a lidar com os computadores. Mas, infelizmente, está com muitas dificuldades auditivas que o impedem de continuar a sua formação nessa área.
Hoje dirigiu-se ao Hospital de Santo António onde tinha uma consulta. Antes da consulta teve que fazer uns testes de audiometria. Acompanhei-o quer nos testes quer na consulta . Estava muito esperançado que iria resolver ou pelo menos atenuar o seu problema.
O médico, face aos exames, reconheceu que os seus problemas auditivos são grandes e não podem ser resolvidos por intervenção cirúrgica. Apenas as próteses lhe poderão restituir alguma audição. Tudo isso consta no relatório que escreveu.

E aqui começa o maior problema. O Sr. Álvaro não tem qualquer possibilidade económica de adquirir as próteses que rondarão os 2000 euros. Segundo a informação dada no Hospital, há uns tempos atrás o Sistema Nacional de Saúde contribuía para as próteses, agora apenas contribui para as infantis. Mesmo assim, fui com com o Sr. Álvaro aos serviços sociais do Hospital, onde me foi disto que não dispõem de qualquer verba para essa ajuda. Ao fim de três horas nestas diligências, levei o Sr. Álvaro à paragem do autocarro. Ia com um ar triste, a contrastar com a boa disposição que tinha manifestado toda a manhã.

Que mundo triste este  atingido por uma louca cegueira, não aquela de que padece o Sr. Álvaro, mas a cegueira dos cegos, que vendo não querem ver...

(…)Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem (,..) in Ensaio sobre a cegueira de José Saramago
O filme, inspirado no respectivo livro, pode ser visto aqui
Pessoalmente considero o livro excepcional, como acho aliás, quase todas as obras de Saramago. Quanto ao filme, apesar de ter lido várias críticas negativas, considero-o bastante bom
Mas regressando ao Sr. Álvaro. Prometi-lhe que iria tentar uma ajuda para as suas próteses. Nesse sentido já enviei apelos a várias entidades. São bem vindas todas as sugestões que nos possam encaminhar na resolução do seu problema
E porque neste blogue também se fala de ciência, voltemos aos testes do Sr. Álvaro.

A partir dos 2000Hz o Sr. Álvaro só ouve sons com um nível sonoro muito elevado. Ora o ouvido humano é sensível a sons que vão de 20 Hz a 20.000Hz. A idade vai-nos fazendo perder a acuidade auditiva e eu fui-me apercebendo disso quando ia com os alunos visitar o Departamento de Acústica da FEUP. A dada altura apercebi-me de que já não detectava sons acima de 12000Hz. Os alunos brincavam comigo: Professora, ainda bem; são tão agudos que incomodam…

Mas o grande problema da poluição sonora, advém do nível sonoro ( que se exprime em dB) e não da frequência (que se exprime em Hz)

A OMS considera que a partir de 50 dB, os efeitos negativos dos sons podem começar a manifestar-se. Alguns problemas podem ocorrer a curto prazo, outros levam anos para serem notados
Sabendo que o ouvido pode sofrer lesões a partir dos 85 dB, e que 120 dB corresponde ao limiar da dor,  qualquer habitante de uma cidade de média ou grande dimensão está diariamente exposto a agressões múltiplas com consequências que poderão ser irreversíveis.

E já que falámos em cegueira e em sons, ouçamos a música de  Joaquín Rodrigo e a voz de Andrea Bocelli,

Joaquim Rodrigo compositor e pianista virtuoso espanhol era  cego desde a mais tenra idade e Andrea Bocelli  tenor, compositor e produtor musical italiano cegou completamente aos doze anos
A terminar " O guitarrista cego" de Picasso



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tragicomédia

Querem que eu dê aulas?

Este é o título de uma mensagem da autoria de Helena Damião colocada há pouco em De Rerum Natura eque não resisto a colcar neste blogue, bem como o comentário que já foi colocado

Texto de Helena Damião

Retrato fiel da tragicomédia do ensino acabado de chegar à minha caixa de correio.
Faço projectos, planos, planificações;

Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;

Escrevo actas, relatórios e relações;

Faço inventários, requerimentos e requisições;

Escrevo actas, faço contactos e comunicações;

Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;

Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;

Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;

Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;

Participo em actividades, eventos, festividades e acções;

Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;

Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;

Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;

Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;

Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;

Redijo ordens, participações e autorizações;

Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;

E mais actas, planos, projectos e avaliações;

E reuniões e reuniões e mais reuniões!...

E depois ouço, alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores, observadores, secretários de estado, a ministra e, como se não bastasse, outros professores, e a ministra!...

Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;

Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;

Averiguo, estudo, consulto, concluo,

Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,

Educativas, pedagógicas, comportamentais,

De comunidade, de grupo, de turma, individuais,

Particulares, sigilosas, públicas, gerais,

Internas, externas, locais, nacionais,

Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?

Que eu dê aulas!?...

Comentário


Anónimo disse...

Tenho tantas saudades do tempo em que as curiosidades que surgiam nas aulas me levavam a pesquisas que davam origem a aulas interessantes e criativas. Aprender a trabalhar mal foi horrível e ainda custa muito. Os livros que temos são péssimos e a ausência de tempo impede-nos de procurar material fidedigno e a trabalhar a informação a nível pedagógico. É muito esquisito.



E eu termino: "Sem comentários"

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ano Novo, exposições novas

É fantástico como nos podemos surpreender a nós próprios.
Se há quatro anos me tivessem dito que um dia iria pintar, limitar-me-ia a emitir um sorriso de total incredibilidade; se para além disso me dissessem que um dia iria expor obras minhas, daria uma gargalhada muito sonora. E se me dissessem que a minha obra ia ser exposta além fronteiras, então achava que o humor tinha ido longe demais…
Mas há momentos em que passamos à hora certa no lugar certo. E assim me iniciei na pintura com o Professor Domingos Loureiro, na Escola Utopia. E não só comecei a pintar como passei a expor. E a culminar este “surpreender-me “, a minha pintura atravessou a fronteira que nos liga à Galiza.
Obrigada à Utopia, à Arte Grove e ao Professor Domingos Loureiro


Estou de novo a expor. No próximo dia 6 pelas 17h, será inaugurada no espaço Vivacidade, Rua Alves Redol, 64 B ( a entrada faz-se pelas traseiras do prédio)  a exposição Estados de Alma  que estará patente ao público já desde o dia 3.

A apresentação será feita pelo artista plástico Domingos Loureiro, professor  na escola Utopia, para além de professor na FBAUP






Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não sórepresentável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E  mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.
Fernando Pessoa in Cancioneiro



Continuando a  falar de exposições, no dia 7 inaugura, no IAC,  uma exposição de Teresa Silva Vieira

A UTOPIA - ESCOLA DE ARTES PLÁSTICAS /PORTO convida para a inauguração

da exposição de pintura a óleo NATUREZA da autoria de Teresa Silva Vieira.
O evento terá lugar no próximo dia 7 de Janeiro de 2011, sexta-feira, pelas 21h30, no IAC- Instituto de Arte e Ciência - Fundação Dr. Luís Araújo, na Praça de Carlos Alberto, 115 - Porto.


Se a  minha obra é a de  uma simples amadora,  a obra de Teresa Silva Vieira é já de uma profissional. Não sei quais os quadros que vão ser expostos, excepto o que insiro abaixo,  mas genericamente, gosto muita da sua obra pelo que aconselho vivamente a visita à sua exposição.

Novo Ano

Tentei colocar esta  mensagem no primeiro dia de 2011, mas como reuni toda a família , o que felizmente  acontece quase todos os fins de semanna,  só agora tive tempo para me sentar em frente ao computador .
A mensagem foi-me enviada por Eduardo Roseira e é um belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade

Cortar o Tempo



Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,


a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no


limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e


entregar os pontos.


Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,


com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente