quinta-feira, 9 de setembro de 2010
O rosto da memória
O rosto da memória
Era um silêncio transparente,
cortante como um cristal de arestas afiadas.
Usei-o como escopro e, lentamente,
fui esculpindo no tempo o rosto da memória
Gouveia, R.
O texto de hoje é uma viagem por mundos de memórias
Começo pelo evento que teve lugar hoje, às 17 h, no espaço criativo Vivacidade: a abertura da exposição Viagem através da memória, de Ana Maria Oliveira, que tive o privilégio de conhecer na escola de pintura Utopia, que ambas frequentamos, com um professor excelente, Domingos Loureiro, um jovem artista mas já com um currículo muito significativo
Foi o referido professor que fez a apresentação mas, instada pela autora, disse algumas palavras, essencialmente um poema que, a seu pedido , escrevi para o evento.
Aqui ficam alguns trabalhos de Ana Maria Oliveira e o referido poema
Nos céus da saudade, minha mente alada,
qual garça esvoaça em voo planado.
Eis que, em voo picado, veloz sobe e desce
para ir mergulhar num mar de memórias
que vai recriar de formas distintas
com pincéis e telas, com rendas e tintas
Regina Gouveia
No passado dia 1 de Setembro, foi apresentado no Centro cultural de Alfândega da Fé, o livro “Os rios também choram” de Carlos Afonso. Nascido em Parada, Alfândega da Fé, em 1962, precisamente no ano em que eu entrei para a Faculdade, não o conhecia, mas conheço/conheci muitos familiares seus, nomeadamente os pais. O autor, licenciado em Humanidades, é professor de Português e Literatura Portuguesa. Estando eu de férias na aldeia, programei desde logo estar presente na apresentação. No dia anterior fui contactada pelo autor. Pensava acompanhar a apresentação de um espectáculo levado a cabo pelas pessoas da terra, espectáculo em que se iriam recriar aspectos de uma forma de viver, não tão distante assim, no tempo. Pretendia que, a propósito da aldeia e do Santo Antão da Barca ( hoje bastante falado a propósito da barragem do Baixo Sabor que vai engolir o santuário), eu lesse dois poemas meus. O mesmo pedido fê-lo também ao poeta Manuel Gouveia, meu primo e amigo.
A viagem pelos caminhos da memória foi surpreendente. Nada foi esquecido. No palco foram recriadas a segada, a monda, a pesca no rio Sabor, a apanha, o escabulhar e o escachar da amêndoa, a ida à missa, a ida à fonte, a lavagem da roupa e a cura dos tremoços no rio, as procissões, nomeadamente a muda do Senhor da Barca (do Santuário, junto ao rio, até à aldeia), em tempos de grande seca, os jogos de roda das crianças … Até o meu neto entrou nos jogos de roda…
A propósito da aldeia li o poema Big-Bang e a propósito do Santo Antão da Barca o poema Barca
Big-Bang
Na minha infância, o Universo estendia-se do Castelo até às Eiras,
envolvendo a Praça e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
Á volta eram ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo
Era assim o meu mundo que para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência, uma das conjecturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang o meu Universo contrai-se, não se expande.
Barca
Entardece. Ainda uns raios de sol, já desmaiados
que se reflectem nos calhaus rolados que o rio afaga.
No ar, um silêncio que apenas o rumor do rio apaga,
rumor, ou talvez prece ao Senhor da Barca, ali ao lado.
Já não existe mais a barca que outrora foi real
mas na margem do rio, enferrujado,
testemunha de um tempo intemporal,
jaz moribundo um pedaço do cabo
que, a cada viagem, guiava a barca
de uma à outra margem.
A festa foi bonita e eu estive lá…
A festa foi bonita mas eu estive lá…Isto lembrou-me Chico Buarque em Tanto Mar.
Também a muda me lembrou o cantor. Deixo-vos com “permuta dos santos” de Chico Buarque e Edu Lobo, na voz de Mónica Salmaso
Termino citando Carlos Afonso no livro acima referido
Sempre que o coração me pedir para lhe contar histórias de encantar, pego nos espaços que me conhecem e nas gentes que me cercam e voo na direcção do sol.
Era um silêncio transparente,
cortante como um cristal de arestas afiadas.
Usei-o como escopro e, lentamente,
fui esculpindo no tempo o rosto da memória
Gouveia, R.
O texto de hoje é uma viagem por mundos de memórias
Começo pelo evento que teve lugar hoje, às 17 h, no espaço criativo Vivacidade: a abertura da exposição Viagem através da memória, de Ana Maria Oliveira, que tive o privilégio de conhecer na escola de pintura Utopia, que ambas frequentamos, com um professor excelente, Domingos Loureiro, um jovem artista mas já com um currículo muito significativo
Foi o referido professor que fez a apresentação mas, instada pela autora, disse algumas palavras, essencialmente um poema que, a seu pedido , escrevi para o evento.
Aqui ficam alguns trabalhos de Ana Maria Oliveira e o referido poema
Nos céus da saudade, minha mente alada,
qual garça esvoaça em voo planado.
Eis que, em voo picado, veloz sobe e desce
para ir mergulhar num mar de memórias
que vai recriar de formas distintas
com pincéis e telas, com rendas e tintas
Regina Gouveia
No passado dia 1 de Setembro, foi apresentado no Centro cultural de Alfândega da Fé, o livro “Os rios também choram” de Carlos Afonso. Nascido em Parada, Alfândega da Fé, em 1962, precisamente no ano em que eu entrei para a Faculdade, não o conhecia, mas conheço/conheci muitos familiares seus, nomeadamente os pais. O autor, licenciado em Humanidades, é professor de Português e Literatura Portuguesa. Estando eu de férias na aldeia, programei desde logo estar presente na apresentação. No dia anterior fui contactada pelo autor. Pensava acompanhar a apresentação de um espectáculo levado a cabo pelas pessoas da terra, espectáculo em que se iriam recriar aspectos de uma forma de viver, não tão distante assim, no tempo. Pretendia que, a propósito da aldeia e do Santo Antão da Barca ( hoje bastante falado a propósito da barragem do Baixo Sabor que vai engolir o santuário), eu lesse dois poemas meus. O mesmo pedido fê-lo também ao poeta Manuel Gouveia, meu primo e amigo.
A viagem pelos caminhos da memória foi surpreendente. Nada foi esquecido. No palco foram recriadas a segada, a monda, a pesca no rio Sabor, a apanha, o escabulhar e o escachar da amêndoa, a ida à missa, a ida à fonte, a lavagem da roupa e a cura dos tremoços no rio, as procissões, nomeadamente a muda do Senhor da Barca (do Santuário, junto ao rio, até à aldeia), em tempos de grande seca, os jogos de roda das crianças … Até o meu neto entrou nos jogos de roda…
A propósito da aldeia li o poema Big-Bang e a propósito do Santo Antão da Barca o poema Barca
Big-Bang
Na minha infância, o Universo estendia-se do Castelo até às Eiras,
envolvendo a Praça e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
Á volta eram ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo
Era assim o meu mundo que para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência, uma das conjecturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang o meu Universo contrai-se, não se expande.
Barca
Entardece. Ainda uns raios de sol, já desmaiados
que se reflectem nos calhaus rolados que o rio afaga.
No ar, um silêncio que apenas o rumor do rio apaga,
rumor, ou talvez prece ao Senhor da Barca, ali ao lado.
Já não existe mais a barca que outrora foi real
mas na margem do rio, enferrujado,
testemunha de um tempo intemporal,
jaz moribundo um pedaço do cabo
que, a cada viagem, guiava a barca
de uma à outra margem.
A festa foi bonita e eu estive lá…
A festa foi bonita mas eu estive lá…Isto lembrou-me Chico Buarque em Tanto Mar.
Também a muda me lembrou o cantor. Deixo-vos com “permuta dos santos” de Chico Buarque e Edu Lobo, na voz de Mónica Salmaso
Termino citando Carlos Afonso no livro acima referido
Sempre que o coração me pedir para lhe contar histórias de encantar, pego nos espaços que me conhecem e nas gentes que me cercam e voo na direcção do sol.
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Olá Regina. Que poderei eu comentar? Apenas dar-lhe os parabéns pelos seus belos post,magníficos poemas e óptimas escolhas que faz.
ResponderEliminarUm beijo.
Obrigada Graciete.
ResponderEliminarOntem não apareceu na exposição da Ana Maria. Quando puder passe por lá pois é muito interesante
Bjs
Regina
Cita bem Carlos Afonso. O mesmo se pode dizer quando nos embrenhamos no seu blogue.
ResponderEliminarPor isso, sempre que o coração me pede, eu venho aqui voar na direcção do sol conjuntamente com os que me são próximos...
Adelaide Pereira
Obrigada Adelaide pelo seu comentário tão poético
ResponderEliminarBjs
Regina