quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Dos pré-conceitos a Rosa Lobato Faria
Qualquer educador sabe que as crianças transportam para o ensino formal uma série de pré-conceitos ( concepções alternativas, ideias prévias e mais um desfilar de nomes que querem significar praticamente o mesmo) que, muitas vezes colidem com o conceito científico, oferecendo aparentemente uma melhor explicação para os fenómenos
E não posso deixar de citar Gedeão in Poema para Galileu
(...)Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.(...)
Mas a que propósito falo de pré-conceitos?
Porque os pré-conceitos existem em muitas outras situações.
Quando em 1995 Rosa Lobato Faria publicou o Pranto de Lúcifer, não senti qualquer curiosidade em ler o livro. Funcionou o pré-conceito. Associava a autora aos festivais da canção e a algumas participações em programas do Herman José pelo que, pressupunha à partida, que o seu romance não corresponderia ao meu género de leitura Muita crítica foi favorável mas, se por um lado não me deixo impressionar exclusivamente pela crítica, por outro todos sabemos como ela funciona muitas vezes, especialmente para autores muito mediatizados. Em 1996 surgiu a obra os Pássaros de Seda. Hesitei um pouco em comprar o livro mas pensei que deveria ler uma das obras para assim fundamentar ou não o meu pré-conceito. Comprei-o.
Gostei imenso . Pela fantasia lembrou-me um pouco alguns títulos de Isabel Allende. Posteriormente comprei vários outros livros da autora, não só para mim, mas também para oferecer.
Daquele meu preconceito peço desculpa, postumamente a Rosa Lobato Faria.
Quem sabe, agora possa bordar pássaros, não de seda, mas feitos da luz das estrelas.
(…)Foi numa exaltação quase febril que a Diamantina bordou a primeira colcha. Era cor de pérola, coberta de flores inventadas, beges, amarelas, todas as cores do pêssego, da ameixa e da laranja e ao centro um deslumbrante pássaro cor-de- fogo que arrepiava de tão improvável (…)
(…)Vou bordar esta colcha em tons de lua, azuis e prateados. Vou bordá-la sozinha, em estado de paixão e quando estiver pronta virei à Pedra Moura e hei-de pendurá-la na sala para visitas imaginárias, naquele lugar vazio, ao lado do lençol das amostras. Para que o sortilégio que foi a minha vida, que é a vida, tenha o sabor do eterno retorno.
In Pássaros de Seda
E não posso deixar de citar Gedeão in Poema para Galileu
(...)Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.(...)
Mas a que propósito falo de pré-conceitos?
Porque os pré-conceitos existem em muitas outras situações.
Quando em 1995 Rosa Lobato Faria publicou o Pranto de Lúcifer, não senti qualquer curiosidade em ler o livro. Funcionou o pré-conceito. Associava a autora aos festivais da canção e a algumas participações em programas do Herman José pelo que, pressupunha à partida, que o seu romance não corresponderia ao meu género de leitura Muita crítica foi favorável mas, se por um lado não me deixo impressionar exclusivamente pela crítica, por outro todos sabemos como ela funciona muitas vezes, especialmente para autores muito mediatizados. Em 1996 surgiu a obra os Pássaros de Seda. Hesitei um pouco em comprar o livro mas pensei que deveria ler uma das obras para assim fundamentar ou não o meu pré-conceito. Comprei-o.
Gostei imenso . Pela fantasia lembrou-me um pouco alguns títulos de Isabel Allende. Posteriormente comprei vários outros livros da autora, não só para mim, mas também para oferecer.
Daquele meu preconceito peço desculpa, postumamente a Rosa Lobato Faria.
Quem sabe, agora possa bordar pássaros, não de seda, mas feitos da luz das estrelas.
(…)Foi numa exaltação quase febril que a Diamantina bordou a primeira colcha. Era cor de pérola, coberta de flores inventadas, beges, amarelas, todas as cores do pêssego, da ameixa e da laranja e ao centro um deslumbrante pássaro cor-de- fogo que arrepiava de tão improvável (…)
(…)Vou bordar esta colcha em tons de lua, azuis e prateados. Vou bordá-la sozinha, em estado de paixão e quando estiver pronta virei à Pedra Moura e hei-de pendurá-la na sala para visitas imaginárias, naquele lugar vazio, ao lado do lençol das amostras. Para que o sortilégio que foi a minha vida, que é a vida, tenha o sabor do eterno retorno.
In Pássaros de Seda
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Obrigada pela partilha das suas palavras. Ah Rosa Lobato! Tão cedo nos deixaste!
ResponderEliminar...
Gosto do seu blog e do seu interesse pela literatura infantil e juvenil
Visite-me em http://contasinfantisblogspot.com
Virgínia
Tive alguma dificuldade em aceder ao seu blog porque vinha a informação de que "estaria corrompido".
ResponderEliminarSoube que é de Vila-Real. Quando era mais jovem e por lá passava em direcção à aldeia no distrito de Bragançaagora também passo muitas vezes mas ao lado...) o meu pai trauteava o "hino" Ornada de tantas galas...etc
Fiquei satisfeita por saber que alguém que eu não conheço pessoalmente, viu o blogue e gostou.
Será sempre bem vinda a este blogue. Eu também irei pasando pelo seu.
Quanto à Rosa Lobato Faria foi de facto uma grande perda...
Foste tu que me emprestaste o primeiro livro que li da RLF, salvo erro, As Tranças de Inês. Gostei imenso e li depois outro de que também gostei.Apreciava-a como mulher, achava-a uma pessoa com personalidade e educação, que não se deixava corromper pelos tiques de mediatização, a que estão sujeitos os que passam pelos festivais e novelas. Era bastante singular num Portugal onde há os tais pre-conceitos - também os tenho - e por vezes as pessoas e o seu valor são ignorados.
ResponderEliminarTinha pensado em pôr uma entrada sobre RLF no meu blogue , mas encontrei-o aqui. Fizeste bem em relembrá-la e ao Galileu, esse poema fantástico do Gedeão.
Nunca li nada da Rosa Lobato Faria, talvez também por pré- conceito. Mas ,pela pequena amostra que a Regina aqui deixou, vou mesmo comprar um livro. Um beijo.
ResponderEliminarOLá Virgínia
ResponderEliminarLembro-me de ter emprestado vários a várias colegas, uma delas a Beatriz Nascimento, que posteriormente me ofereceu "O Romance de Cordélia" pedindo-me que depois lho emprestasse. Emprestei-lhe pouco antes da sua fatídica doença e acabei por o não reaver. Tenho pena porque tinha a sua dedicatória
Olá Graciete
Posso emprestrar-lhe os títulos que tenho e são vários
Bjs
Regina