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Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Mendeleev e Borodin

Dmitri Mendeleev ( 1834-1907) foi ultimo filho de uma família numerosa (teve 13 irmãos) Tendo o pai cegado com Dmitrii ainda novo, a mãe, Maria, abriu uma fábrica de vidro. Quando Dmitrii está a acabar o liceu o pai morre e a fábrica arde. Maria vai para Moscovo com o filho, tentar que ele entre na universidade, mas não tem sucesso. No entanto não desiste. Vai para S. Petersburgo onde Dimitri é submetido a um exame extraordinário para tentar, desta vez com sucesso,  a entrada no Instituto. Maria morre pouco depois de tuberculose, consumida pelo cansaço de uma vida de labuta.


O filho não o esquecerá e na sua obra mais importante (Princípios de química, 1868 – 1870) escreve: “Esta investigação é dedicada pelo seu filho mais novo, à memória de uma mãe . Dirigindo uma fábrica,  somente com o seu trabalho  pôde educá-lo. Instruiu-o pelo exemplo, corrigiu-o com amor, e a fim de o dedicar à ciência deixou com ele a Sibéria, gastando assim seus últimos recursos e forças”.

Em 1856, concluído o curso de Química , foi leccionar para Odessa, na Crimeia. Em seguida partiu para Paris onde trabalhou  e depois para Heidelberg  onde se tornou amigo de outro químico famoso, Borodin.

Mendeleev é um nome que ligamos à Tabela Periódica dos Elementos, ferramenta indispensável para qualquer químico, e não só.Classificou os elementos químicos dispondo- os por ordem crescente do seu peso atómico. Já outros cientistas tinham tentado anteriormente estabelecer conexões entre os pesos atómicos e as propriedades de alguns elementos mas Mendeleev não estava a par desses trabalhos .

Mendeleev notou que as propriedades das substâncias simples se repetiam  periodicamente mas por vezes teve que criar   lacunas no seu quadro de classificação dos elementos. Previu a existência de elementos que ocupariam essas lacunas e adiantou propriedades para os mesmos. Além disso, em diversos casos, para ser mantida a ideia de periodicidade, a posição de alguns elementos teve que ser trocada, pois não correspondia à que lhes competia de acordo com o peso atómico determinado pelos químicos da época. Assim, por exemplo, o telúrio deveria ser colocado antes do iodo, embora o peso atómico do telúrio seja 128 e o do iodo 127. Assinalou também as inversões de outros pares de elementos A maioria dos químicos da época acolheu com algum cepticismo o trabalho de Mendeleev mas em 1875 foi descoberto, perto dos Pirinéus, um novo elemento que, em homenagem à França, ficou com o nome de gálio. Mais tarde foram descobertos dois novos elementos, o escândio (1879) e o germânio (1886). Em todos estes casos as propriedades dos elementos recém descobertos coincidiam espantosamente com as previsões de Mendeleev para os elementos que iriam ocupar as lacunas. Somente em 1913 Henry Mosely estabeleceu o conceito de número atómico com base no qual os elementos estão hoje dispostos na Tabela Periódica mas essa descoberta provocou apenas alguns rearranjos na classificação dos elementos feita por Mendeleev,

Borodin é um caso totalmente à parte na história da ciência. A devoção tanto à química como à música foram uma constante, tornando-se o único praticante de uma carreira dupla dessa natureza ao longo de toda a vida. Contudo, a importância de Borodin na história da música é de tal modo importante, que hoje poucos conhecem o seu papel como pesquisador e professor de química na Rússia do século 19. Mas a sua trajectória como químico não pode ser ignorada.

Aleksandr Borodin (1833-1887) nasceu em São Petersburgo,. Ele era filho natural do príncipe Gedianov  mas foi registado como filho de um servo do Príncipe, Porfirii Ionovich Borodin, e de sua mulher.
A verdadeira mãe, que Borodin tratou sempre por tia, veio a casar-se em 1839 com um médico militar. Desde cedo o jovem Aleksandr (Alexandre) demonstrou um invulgar talento musical.
Em 1847, aos 14 anos,  compôs um concerto para flauta e piano. Ainda jovem tomou contacto com as ciências que o fascinaram, muito em particular a química.
Aos 17 anos foi admitido como estudante da Academia Médico-Cirúrgica de São Petersburgo..
Em 1856 concluiu brilhantemente o curso.Mesmo antes da formatura já havia sido indicado para professor da Academia.  A sua paixão pela química  levou-o a escolher essa área para a sua tese de doutoramento "Da Analogia do Ácido Arsénico com o Ácido Fosfórico no Comportamento Químico e Toxicológico".
Durante a sua carreira viveu algum tempo em Heidelberg, onde vários químicos russos trabalhavam ao tempo,  e é aí que Borodin inicia a sua amizade com Mendeleev. Os químicos russos em Heidelberg reuniam-se frequentemente, e dessas discussões surgiu o embrião da futura Sociedade Química Russa, que viria a ser fundada anos mais tarde

Na década de 80 houve uma grande luta dos intelectuais progressistas, entre os quais alguns dos maiores químicos russos do tempo, como Mendeleev, Butlerov, Markovnikov e Borodin, contra os reaccionários que dominavam a Academia das Ciências da Rússia, muitos dos quais estrangeiros. A situação chegou a tal ponto que a Academia vetou o ingresso nos quadros, do mais eminente químico russo do século 19, Mendeleev. Borodin não conteve sua indignação e protestou abertamente contra essa conduta abjecta. Na Academia Médico-Cirúrgica, Borodin decidiu só recomendar russos para os cargos vagos. Todavia, quando ele propôs em 1873 que a cadeira de física fosse atribuída a Mendeleev ou ao professor da Universidade de Moscou Alexandre Grigorievich Stoletov, a Academia não se dispôs a acatar a sugestão e preferiu deixar a cátedra vaga por mais de dez anos






A música que, ao longo da sua carreira não foi  a sua principal  preocupação, não foi esquecida. Tocava regularmente em conjuntos de cordas, e na primavera de 1860 compôs um sexteto para dois violinos, duas violas e dois violoncelos, que teve sua primeira execução em Heidelberg
E agora deixo-os com a música de Borodin
Sobre Mendeleev e Borodin poderão consultar um  Boletim da SPQ

2 comentários:

  1. Mendeleev foi um dos maiores químicos, melhor, cientistas conhecidos. Ele contribuiu genialmente para o estudo da constituição da matéria secundado por Moseley que, tão novo, morreu numa guerra imposta, tal como todas as guerras,pela mesquinez e ganância de gente sem escrúpulos. Também foi perseguido pelos seus ideais progressistas. Esta última parte bem como sua ligação a Borodine eu não conhecia ou estava esquecida. Obrigada Regina por este post que faz uma ligação tão bela entre a ciência e a música. Um abraço grande.

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  2. Durante muito tempo, também ignorava a amizade entre Mendeleev e Borodine tal com a relação deste com a Química.
    Encontrei esses dados numa das pesquisas para as primeiras aulas que leccionei na UPP Bjs
    Regina

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